Recebi a notícia da eleição de ‘Francisco’ na aldeia Escalvado, entre os índios Kanela, à noite, no jornal nacional. Argentino, me disseram. Francisco o nome escolhido, e sem ser seguido por nenhum algarismo romano (I, II, II, IV...) Simplesmente...Francisco! Comecei a gostar. Afinal era o nome de meu pai e de um dos poucos santos que eu venero. Vem da América Latina e mesmo sendo um ‘primo nuestro’ que veste a camisa ‘blanco-azul’ é sempre um nosso querido vizinho que muito nos alegra. Quando começaram a nos informar que ele costumava pegar meio de transporte público, que ele próprio cozinhava para si, e que tinha um estilo de vida sóbrio, pensei logo que o grande inspirador do ‘nome papal’ poderia ser mesmo Francisco de Assis como, de fato, mais tarde, ele mesmo admitiu. Não li quase nada até agora sobre esse papa, mas soube que alguém já insinuou que também ele como a maioria dos bispos argentinos não teria tido uma atitude muito profética com relação à época ‘suja da ditadura’. Insinuações que o prêmio Nobel ‘Esquivel’, argentino, de imediato, desmentiu. E, para mim, isto me deixa satisfeito. Seja o que for, Francisco parece ser ’barra limpa’, e isso, com os tempos que correm, já é muita coisa! Agora, o que esperar dele? Seria ele o grande reformador da igreja? Iria ele iniciar uma nova primavera na igreja convocando, por exemplo, um concílio vaticano ecumênico tentando colocar a igreja na trilha do diálogo intercultural, no pluralismo religioso e cultural, no respeito pelas autonomias das igrejas locais, etc.? O nome Francisco seria uma sinalização que deseja uma igreja pobre para os pobres, despindo-se dos poderes ‘estatais’ e dos ‘anéis burocráticos’ que parecem ter vida própria e paralela à vida dos ‘católicos normais’? Seria o nome Francisco um ‘programa de governo’ ou um ‘golpe de marketing’ utilizado para alimentar expectativas e sonhos que dificilmente poderá realizar, mas que serviria para dar um pouco de alento à cansada igreja européia ou à ameaçada (pelos evangélicos) latino-americana? Ele que nunca teve uma passagem sequer pela ‘cúria’ - e que, suponho, pouco conhece, - terá ele vontade, habilidade e condições de ‘quebrar’ o espinhaço de uma instituição secular tão enraizada no Vaticano e que tem tentáculos que vão além dele?
E aqui faço o meu diagnóstico, talvez um tanto simplista, mas acredito não tão longe do real histórico...
1. Francisco tomará algumas atitudes que serão recebidas com simpatias pela sociedade em geral como, por exemplo, o fim de alguns privilégios religiosos, um enxugamento mesmo que modesto da máquina curial ou, quem sabe, a venda ou cessão de alguns prédios de propriedade vaticana, para sinalizar que a igreja a ser hegemônica deverá ser a dos pobres, leig@s, etc. Isto, contudo, não significará uma mudança das práticas e das funções da cúria e do seu poder de interferência. Não acredito que tenha força, caso o queira, para por em ato uma sana e urgente descentralização de muitas funções curiais para as conferências episcopais nacionais. Serão, contudo, decisões de amplo apelo popular (populista?)
2. Desde um ponto de vista doutrinal e moral ele fortalecerá o que seus antecessores já disseram em alto e bom som. Algo que já sabemos e nada acrescentará. Talvez a única coisa que tentará mexer seja ‘a comunhão aos divorciados’ com condições e disposições bem rígidas. Acredito que será mais tolerante, pois alguns avanços já estavam visíveis com o seu antecessor. Ninguém espere, - e torço para errar feio, - que ele abra o sacerdócio ou a diaconia (algo mais simples!) para as mulheres, ou decrete o fim do celibato obrigatório para quem deseja ser presbítero, ou outras decisões mais ousadas.Claro que poderíamos continuar a apontar até dimensões mais estruturantes, mas seriam meras especulações. Torço para que ‘Francisco’ nos surpreenda! Torço e rezo para que ao tomar determinadas decisões, - se ele chegar a tomar, - que possa contar com o apoio de uma igreja-povo que parece sempre mais cansada e conformada. Que Francisco seja audaz e ousado, mesmo que tenha que trair a sua biografia!
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