‘Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 32“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. 33 Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. 34 Porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração’.
Parece até cinismo convidar um ‘pequenino rebanho’ de pobres, mendigos, doentes e impuros a ‘vender’ seus bens e dar o dinheiro em esmola. Quais seriam, afinal, esses bens de valor que eles possuem, e a quem seriam vendidos? Por acaso, seriam vendidos para aqueles que possuem dinheiro e que, talvez, sejam os mesmos que os têm defraudado ao longo de suas vidas? E ao vender os poucos bens que possuem, iriam viver, por acaso, exclusivamente da generosidade de um Reino prometido, mas ainda não realizado? O modo de proceder de Jesus continua sendo sempre mais provocador e um tanto chocante. Jesus, no entanto, deixa claro que ‘os pequenos’ são os verdadeiros destinatários do Reino de Deus. Que ao tomar consciência disso, devem colocá-lo como primeiro e único valor. Eles, principalmente, mais do que qualquer outro. Que os pequenos, mesmo sendo os herdeiros preferidos do Reino, eles também podem ser tentados em correr atrás de ‘outros tesouros’. Por isso que eles também devem se desfazer de tudo o que cheira a dependência e escravidão: a sede de acumular. Ao proceder desse jeito os pequenos estariam jogando para a lata do lixo a imperdível chance de ‘administrar’ definitivamente um Reino que sempre sonharam e que jamais viram.
Na realidade Jesus não entra no joguinho típico de quem divide o mundo entre bons e maus, entre ricos e pobres, entre puros e impuros. A nossa existência possui muitas tonalidades e matizes. Para Jesus também os pequenos são vítimas do desejo e da ambição de possuir e de segurar bens efêmeros, achando que nisso podem encontrar a verdadeira felicidade. Também eles podem gastar energias e recursos para correr atrás de ‘tesouros’ que têm vida curta, que iludem. É impressionante como Jesus parece ser mais intransigente justamente com o ‘pequeno rebanho’ do que com aqueles que juntam efetivamente tesouros que se corrompem ou que serão dilapidados pelos seus herdeiros. Uma coisa parece certa: Jesus aposta nos pequenos, pois eles continuam sendo ainda os mais generosos, e com mais capacidade de partilhar. Já daqueles viciados em ajuntar e abusar dos bens materiais há poucas chances de eles fazerem deslanchar o novo jeito de governar de Deus! Para estes, o verdadeiro tesouro continua sendo aquele palpável, o material mesmo. Aquele tesouro que lhes dá a falsa idéia que podem conquistar/comprar tudo e todos. Que os pequenos não joguem fora as chances de gerar uma nova humanidade sobre bases mais humanas, sóbrias e solidárias!
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