Até poucos dias antes da chegada do papa Francisco ao Brasil a pauta de juventude não era bucólica e carregada de mensagens de paz e esperança. Pelo contrário, era alto o brado pela redução da maioridade penal e fortes os ataques ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que garante direitos a uma das pontas frágeis da sociedade. Para a mídia, em geral as crianças e jovens são vistos sob duas óticas: como consumidores ou como infratores. Não há uma reflexão nos meios de imprensa sobre o papel dos jovens na sociedade enquanto atores capazes de oferecer a energia que alimenta as utopias ou pessoas com grande capacidade para inovar e propor caminhos, alternativas e novas tecnologias. A abordagem da imprensa dos fatos de uma sociedade não é feita pela ótica da normalidade, daquilo que é a rotina do cotidiano, mas da exceção. Ou seja, quando um adolescente comete um crime bárbaro aquilo é martelado à exaustão nos canais de TV e jornais, principalmente porque a anomalia é notícia e, portanto, vende mais, atrai mais público. A repetição da anomalia cria na sociedade uma falsa sensação de que aquilo é corriqueiro, que os crimes cometidos por jovens são a maioria e que eles precisam se punidos.
Por outro lado, o tratamento desqualificado e muitas vezes brutal recebido por jovens encarcerados em instituições que deveriam garantir seus direitos à educação, saúde, moradia e outros é fato corriqueiro, portanto, deixa de ser notícia. Não é abordado pela mídia, a não ser em casos de rebelião, quando novamente a exceção rompe a barreira da rotina e exige seu espaço nas manchetes. O debate sobre a maioridade penal deveria ser mais abrangente, envolvendo uma discussão ampla sobre as políticas voltadas para a juventude em todo o Brasil, nas questões de educação, saúde e moradia, mas principalmente em relação ao acesso dos jovens a oportunidades, principalmente de trabalho. Há ritos de passagem que não estão acontecendo, a sociedade não oferece as necessárias oportunidades para que os jovens ascendam ao mundo adulto com dignidade. As políticas de inclusão de jovens devem ter maior abrangência e ir fundo na oferta de serviços que ajudem a mitigar carências materiais e de acesso às oportunidades. Debater a maioridade penal é importante, porque a sociedade precisa entender o porquê das garantias que o ECA dá aos jovens. Os jovens de 18 a 24 anos são o maior grupo por faixa etária da população carcerária de pouco mais de meio milhão de presos no Brasil. Eles representam 30% do total de detentos, enquanto os jovens de 25 a 29 anos somam 26% dos presos no Brasil. Ou seja, mais da metade da população carcerária do país já é composta por jovens. Agora que o papa Francisco se foi e que a Jornada da Juventude chegou ao fim, é uma boa hora para retomar o debate sobre como a sociedade brasileira trata seus jovens. Educação, saúde, habitação, oportunidades.(Fonte:Carta Capital - reelaborado pelo blogueiro)
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