Vivemos numa sociedade que exige que sejamos educados a tirar proveito de tudo e de todos. Que sejamos fiéis discípulos da equação custo-benefício. Que se existe algum tipo de custo/sacrifício na vida que seja para obter, mais adiante, mais lucros e mais vantagens. Que nos convençamos que nós humanos temos no nosso DNA a tendência inata em desejar, possuir, acumular e segurar bens para nós. Que isso, afinal, é natural. Há igrejas que se associam a esse tipo de educação e afirmam em alto e bom som que possuir muitos bens seria até uma bênção de Deus. Um ato explícito da sua benevolência e da sua vontade para com aqueles que lucram e acumulam. Quanto mais um ‘abençoado’ possuí bens mais amado e querido por Deus. Tudo isso, no entanto, não resiste a uma superficial constatação do que vêm ocorrendo com as pessoas que aceitam ser ‘educadas nesse tipo de escola’, ‘a pedagogia da ganância’. Jesus, mesmo não vivendo num sistema eufemisticamente definido capitalismo ‘liberal’ nos mostra no evangelho de hoje que a ganância escraviza. Revela como aquelas pessoas que aceitam de se submeter aos impulsos de ter, do acumular, de consumir acabam perdendo sua liberdade interior. Tornam-se bonecos manipulados pelo poder da sedução de se sentirem únicos donos de algo que, fatalmente, não lhe proporcionará liberdade de ação.
É incompreensível para Jesus, inclusive, a sóbria e sábia preocupação com o cotidiano. Até nisso Jesus nos alerta para agirmos com mais serenidade, pois o Pai que está nos céus não deixa cair um só fio dos nossos cabelos e alimenta os passarinhos que não plantam e nem semeiam. A atualidade da crítica de Jesus a quantos colocam a ganância como alicerce da sua existência é desconcertante. Num sistema econômico que propaga a idéia de que é a liberdade de vender, de comprar, de trocar, e de acumular que faz o mundo evoluir e desenvolver, e proporciona satisfação plena, constatamos com amargura que é justamente isso que cria sempre mais novas formas de escravidão e de dependência. A muitos filhos e filhas de Deus lhes são negadas as condições mínimas para viver com dignidade. E aos seus carrascos, sonegadores de vida, vítimas e escravos de sua sede insaciável e doentia de acumular bens para se exibirem, só lhes cabe ostentar, pateticamente, tão somente o seu vazio interior. Só lhes resta como ‘celeiro moral’ o não sentido da sua vida. Acumularam para dominar e serem felizes, e colhem infelicidade e amargura.
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