“A reeleição de Dilma é, antes, a reafirmação do sistema político brasileiro em não mudar os termos de sua disputa, reencenando a polarização entre PT e PSDB, uma dialética do menos pior que substitui o esvaziamento da dinâmica político-partidária”. A declaração é de Bruno Cava à IHU On-Line, ao comentar o resultado das eleições presidenciais deste ano. Ele frisa que “o último ato dessa peça, com Dilma de branco pedindo diálogo com a oposição, teve como pano de fundo o sorriso amarelo de Michel Temer. Ali estão Kátia Abreu, Collor, Pezão, Sartori e tantos outros, onde também serão bem- vindos banqueiros, grandes proprietários e megaempresários que, terminada a eleição, se reacomodam no poder constituído”. E acrescenta: “Esse pano de fundo inquestionado seria o mesmo, caso Aécio vencesse”. Na interpretação dele, o processo eleitoral “indica o esgotamento final da representação político-partidária no Brasil, na medida em que um grande espaço político não foi ocupado por nenhuma das forças que se apresentaram nessa eleição”. Nesse quadro, “as manifestações de 2013 e as transformações sociais não encontraram repercussão no debate eleitoral, reduzido rapidamente a campanhas negativas, investidas acusatórias, denuncistas, a um encadeamento de angústias, fobias e reações raivosas que tomou as redes sociais e, no final, parte das ruas do país”.
Bruno Cava lembra ainda que “o governo Dilma foi madrasta com as lutas e mobilizações sociais. Ativistas presos durante a Copa, tanques e tribunais militares na favela, e os projetos de Belo Monte e Tapajós estão na conta desse governo que, em sérios apuros na eleição, anuncia arrogantemente a obrigação moral de que a esquerda vote nele”. Ele justifica que o “apoio de alguns movimentos organizados no 2º turno, como MTST, Brigadas Populares de MG ou grupos LGBT, foi para vetar o ‘pior maior’, que seria um governo Aécio embalado com um discurso antiesquerda. A reeleição indica, novamente, a ausência de uma alternativa capaz de furar o cerco do sistema político”.Nesse jogo político, assevera, “o apoio do PMDB se reafirma como dogma, o PSB caminha no sentido de emular o PMDB, o PT anuncia pela enésima vez a promessa de renovação e ‘guinada à esquerda’, a Rede perdeu muito com o desastre da campanha de Marina e o PSOL ganhou força no Rio de Janeiro, única dissonância ao consenso petista-pemedebista, embora em nível nacional a votação tenha sido aquém do que se esperaria depois de tantas lutas e mobilizações em 2013”. (Fonte:IHU)
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