Até que ponto chega a paciência humana quando, após anos de acompanhamento e de proteção para com uma pessoa, esta parece desconhecer e ignorar todo o bem que lhe foi reservado? Como continuar a lhe oferecer confiança se ela parece nos trair constantemente e chega até a se irritar e a se indignar com o nosso amor delicado e desinteressado? A parábola de hoje tenta responder justamente a essas questões que são bem reais e fazem parte do nosso cotidiano. É claro que Jesus está fazendo um resgate do amor paciente e compassivo que Deus teve para com o seu povo (vinha) e, principalmente, da confiança extrema que depositou nos seus representantes para dele cuidar com responsabilidade. Relembra o carinho e a delicadeza com que cuidou do seu povo enviando pessoas (profetas) responsáveis e dedicadas para protegê-lo e alertá-lo sobre os perigos e as ameaças. Para alertar principalmente os que tinham a missão primordial de cuidar e proteger a vinha/povo. Contudo, ao longo da história Deus só colheu decepção, negligência, traição e, mais que isso, revolta contra Ele e contra o próprio filho (Jesus), o herdeiro, que foi assassinado. A parábola que tem o intuito de despertar um questionamento radical e uma reação forte nos ouvintes de Jesus termina com uma pergunta central dirigida aos seus diretos interlocutores, os sacerdotes e os doutores da lei. Eram estes que, inicialmente, deviam cuidar com amor da vinha/povo.
Jesus pergunta: o que deveria fazer o dono da vinha, em sua opinião, com aqueles vinhateiros irresponsáveis e perversos? Os sacerdotes e dirigentes do povo, que ainda não haviam intuído que eram eles próprios esses perversos e assassinos, deram a resposta que o próprio Jesus esperava. A vinha, segundo eles, deveria passar sob a responsabilidade de outras pessoas mais responsáveis e fieis, que saibam produzir frutos, mesmo que não façam parte do mesmo povo, ou seja, os pagãos e estrangeiros. Serão estes, segundo Jesus que, a partir de agora, terão a incumbência de cuidar com amor e paciência da vinha-povo de Deus. Da mesma forma que faria uma pessoa ao perceber que o seu amor e dedicação para com outra não encontra nenhum tipo de retorno. Sabemos que, na realidade, o amor de Deus é ilimitado, e infinitamente paciente, e Ele não desiste de nós. Somos nós, ao contrário, que ao não compreender a beleza de conviver com Ele, na sua graça e compaixão, corremos atrás de ‘outros falsos cuidadores’, de sonhos ilusórios, de manias de grandeza, achando que nisso teremos mais vantagens e mais benefícios! Assim pode ocorrer nas nossas comunidades: quando se percebe que a dedicação e o serviço gratuito dos responsáveis vêm a faltar, e não conseguem mais produzir frutos de mudanças. Muitas vezes se abre o caminho para a desistência e para a dispersão do rebanho. Que cada um de nós se sinta responsável de cuidar com amor, dedicação e paciência da ‘vinha’ que somos todos nós, juntamente com aqueles que achamos que ainda não são a ‘nossa vinha’!
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