As agressões e as ameaças que há mais de dois meses madeireiros e comerciantes da região do Centro do Guilherme ligados ao comércio clandestino da madeira dentro da terra indígena Alto Turiaçu vinham fazendo aos índios Ka’apor culminaram, ontem, 27 de abril, no homicídio de Eusébio Ka’apor. Eusébio era um dos defensores da terra indígena e ferrenho opositor dos madeireiros e políticos locais que viviam extraindo diuturnamente madeira nobre da terra indígena. Eusébio que era morador da aldeia Ximborendá, município de Santa Luzia do Paruá, foi vítima de dois tiros nas costas numa pequena localidade próxima do Centro do Guilherme. O líder indígena, juntamente com outro companheiro estavam vindo, de moto, de uma pequena aldeia recém-criada dentro da terra indígena Alto Turiaçu e, ao passar por um centro habitado várias pessoas armadas pareciam como que estivessem esperando por eles. Os indígenas seguiram em frente quando vários tiros foram disparados em sua direção e dois deles atingiram Eusébio Ka’apor nas costas. Carregado pelo outro indígena até uma localidade próxima foi socorrido por algumas pessoas que tentaram levá-lo, de carro, para um hospital de Santa Inês. Ao chegar, porém, à cidade de Nova Olinda não aguentou e faleceu. Várias pessoas que vêm acompanhando o clima de tensão e de violência que existe na região do Centro do Guilherme esperavam por isso. É que os Ka’apor de alguns anos para cá decidiram não mais fazer vista grossa ao comércio existente em sua terra, e que vinha provocando prejuízos de toda ordem. Organizaram, recentemente, algumas operações de expulsão de madeireiros, chegando a tocar fogo em caminhões e a prender em flagrante várias pessoas. As retaliações, contudo, não demoraram a aparecer.
De janeiro até hoje os ka’apor viviam como que em cárcere domiciliar, impedidos de sair de suas aldeias porque constantemente agredidos e ameaçados. Nesses poucos meses foram arrancadas e roubadas dos índios quatro motos e espancados e humilhados pelo menos 10 indígenas no intuito de se vingar pela ação dos índios, e de intimidá-los quanto a eventuais novas ações. Os índios narram que sequer podiam registrar as ocorrências, pois os invasores contam com a cumplicidade da polícia militar da região, sem falar no apoio e no envolvimento direto de vereadores e prefeitos da região que, inclusive, - numa operação realizada da Polícia Federal há mais de ano, - alguns deles chegaram a ser presos por alguns dias. A Secretaria dos Direitos Humanos do Estado, o Ministério Público Federal e a OAB/MA vinham acompanhando a situação, mas não se conseguiu montar até hoje um plano de presença institucional permanente na região para desarmar e pacificar os revoltados madeireiros que se viram impedidos pelos índios a continuar a explorar irracional e ilegalmente a madeira da terra indígena. Agora, aguarda-se que Polícia Federal e outros órgãos não somente investiguem e punam os autores do crime bárbaro, mas que iniciem um trabalho de presença institucional, pois na região do Centro do Guilherme há muito tempo vigora a lei do mais forte, e o Estado nunca disse a que veio.
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