A verdadeira conversão tem que produzir necessariamente frutos. Dizer simplesmente que uma pessoa se converteu e não perceber nela nenhuma mudança significativa de comportamento é mera ilusão. Conversão do coração que não faz surgir uma conversão social, ou seja, uma mudança radical nas relações sociais é pura tapeação. Nós mesmos manifestamos descontentamento e indignação quando não vemos o cumprimento de promessas, de respeito aos direitos, de belos discursos. Da mesma forma pensava João Batista. Em contraposição à infinidade de normas e preceitos que a classe sacerdotal impunha ao povão como meio de alcançar a salvação, João colocava a mudança radical nas relações sociais e econômicas. Era preciso cortar os privilégios e os abusos daqueles que viviam no alto, os mandatários, e que humilhavam os de baixo, os que viviam nos vales da vida. Era preciso rebaixar as montanhas e encher os vales, eliminar os abismos sociais, para criar uma realidade de justiça e equidade. Só assim Israel se salvaria. A fórmula de João não era intensificar as celebrações, os sacrifícios, os jejuns, as novenas, e sim, a caridade concreta, aquela que cria pessoas e realidades novas.
O evangelista Lucas relata que João se dirigiu de forma específica a três grandes categorias de pessoas: ao povo em geral, ao mundo das finanças e ao aparato militar. Ao primeiro, ao povão, João pede sensibilidade e compaixão para com aqueles que morrem de frio e de fome. Não adianta esperar políticas públicas quando um seu irmão está à beira da falência física e biológica. É preciso superar egoísmos e indiferenças pessoais e intervir de forma generosa para salvar pessoas do perigo da morte biológica (não da alma!). O segundo grupo é formado por pessoas que abusam do seu poder econômico, poderosos em controlar o fluxo da produção e do dinheiro. São funcionários capazes de reduzir à miséria pessoas que vivem trabalhando e poupando a vida inteira para garantir sustento para si e a sua família. A eles João pede o estrito cumprimento da lei que por si só já era de uma extorsão sem limites. Exige-lhes que não explorem mais do que a lei já vinha permitindo. E o terceiro grupo parece não conhecer até hoje nenhuma evolução histórica, pois permanece arcaico como sempre: a polícia que prende sem mandato judicial, invade residências, extorque para tirar proveito pessoal, usa a violência antes mesmo de perguntar a identidade. Aos soldados e policiais João pede que sejam respeitadores da dignidade inalienável e dos direitos de cada pessoa. Essas exigências são consideradas por Lucas ‘boa nova’, evangelho. De fato, não existe uma nação ou uma comunidade que possa experimentar a vida em plenitude, a salvação real, sem pôr em prática essas exigências básicas. Hoje, mais do que nunca, urge cumprir isso no nosso país!
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