Cármen Lúcia foi decisiva na prisão de Lula ao pôr em julgamento seu habeas corpus. Fã de Michel Temer, Cármen Lúcia dá adeus ao comando do Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira 13 com uma proeza. Nunca um presidente do STF teve a casa pichada. O prédio onde possui um apartamento em Belo Horizonte levou uns petardos de tinta vermelha em 6 de abril, um dia após a Corte negar um habeas corpus ao ex-presidente Lula e assim garantir a prisão dele. Logo depois da pichação, Cármen conversou com alguns assessores. Um deles hoje em dia diz ter ouvido o seguinte comentário da juíza mineira: “Ele [Lula] não devia ter sido preso”. Recorde-se: Cármen foi decisiva na prisão do petista por ter posto em julgamento o HC lulista, negado a ele por 6 votos a 5, em vez de pautar duas ações que impediriam a prisão de qualquer pessoa condenada por um tribunal de segunda instância, tema em que havia mais chance para Lula.
No mundo jurídico, aposta-se que o mais jovem presidente da história da Corte (Toffoli tem 50 anos) fará uma gestão melhor do que Cármen.Entre colegas de toga, advogados, funcionários do STF e até assessores dela, é difícil ouvir algo elogioso sobre a gestão de Cármen, iniciada em setembro de 2016. No geral, a mineira de 64 anos é apontada como alguém sem expressão e liderança, de baixa capacidade técnica na área penal, a do momento, pouco dada ao diálogo e à sinceridade. “Carminha”, como é chamada por amigos, posou inicialmente de durona no trato com políticos, no embalo da Operação Lava Jato e do impeachment de Dilma. Depois, recebeu em casa, de fim de semana e fora da agenda, Michel Temer, denunciado ao STF duas vezes por crimes. A explicação? Admiração de fã, provavelmente.
Seus sentimentos por Temer ganharam as ruas em 7 de março, em um evento de 25 anos da Advocacia Geral da União (AGU), o time de defensores do governo federal. Em dez minutos de discurso, Cármen citou Temer seis vezes, a sorrir na direção dele, parecia que o presidente era o centro da festa. A aposta numa gestão melhor de Toffoli baseia-se também em certos atributos do juiz, não apenas na comparação com Cármen. Ele trabalhou no governo (Lula) e no Congresso (com o PT), tem mais traquejo administrativo, sabe da importância de conversar com colegas, com os outros poderes da República.
No mundo jurídico brasiliense, há quem julgue haver pistas de que Toffoli vai mexer em um vespeiro, como certas mordomias togadas, férias de 60 dias, penduricalhos salariais. Também há prognósticos de que Toffoli irá ressuscitar o CNJ e levá-lo a debater coisas como encarceramento massivo (políticas estaduais de prender pessoas a rodo que levaram, por exemplo, ao fortalecimento do PCC em São Paulo), audiências de custódia (decisões sumárias e imediatas de juízes diante da detenção de suspeitos) e qual quantidade, afinal, caracteriza tráfico de drogas.As várias estocadas em abusos da Lava Jato prenuncia tempos difíceis para os juízes Sérgio Moro e Marcelo Bretas. É por esta razão que Carminha, conta um auxiliar, dissemina que o sucessor tem um pacote pró-impunidade de corruptos.
É possível que Toffoli bote em julgamento no CNJ o caso do grampo ilegal autorizado e divulgado por Moro de um telefonema da então presidente Dilma com Lula. Um processo que Cármen nunca tirou da gaveta e que, se for tirado mesmo, terá ao menos um voto por condenar Moro, preparado por um certo membro do CNJ....Uma pesquisa feita em junho pelo Datafolha mostrou que 31% dos brasileiros não confiam na Justiça, número que era de 25% em abril do ano anterior. No caso do STF, situação pior: 39% não confiam, ante 29% em 2012.
(Fonte: André Barrocal em Carta Capital)
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