O apoio de Igrejas em torno de certas candidaturas transcende a preocupação, que deveria ser elementar, com a disseminação de valores cristãos. Alguém que reverbera suposta preocupação com a família, mas afirma coisas como (a uma mulher) “só não estupro você, porque você não merece” ou “tive quatro filhos homens; na quinta vez, fraquejei, e nasceu uma mulher”, não tem moral para se apresentar como defensor de qualquer família, sequer de sua própria. Realizar apologia à violência, inclusive banalizando a ação de matar e venerar a torturadores, e proliferar ideias apinhadas de misoginia, racismo e xenofobia, também escapa radicalmente aos princípios cristãos.
O endosso de Igrejas a candidaturas desse nível só pode ser justificado como uma tentativa desleal de se chegar ao poder. A situação ainda é pior, porque tal apoio se dá ao arrepio da lei, não apenas na violação dos princípios do Estado laico. Notícias têm revelado que sacerdotes estão sendo moralmente assediados a escolher entre o eleito pela Igreja ou a expulsão da congregação, templos têm sido utilizados para propagar recomendações de voto, fake news são articulados para enaltecer qualidades que o candidato não tem e proliferar mentiras sobre outras candidaturas. Em síntese, uma sucessão, em cascata, de infrações abomináveis às leis penal e eleitoral.
Mantenham-se as autoridades vigilantes, porque o poder de multiplicação do estelionato espiritual é incomensurável e fere de morte a democracia. Denúncias da espécie precisam ser apuradas e repreendidas com vigor, para que sirvam de exemplo e para que possíveis vítimas conheçam que estão sendo constrangidas por práticas imorais e ilícitas, as quais precisam ser veementemente refutadas pela sociedade e o Estado. (por Marcelo Ribeiro Uchôa)
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