A adesão à fúria antipetista, não raro, impede até a contundência da crítica ao fascismo. O jornalista e professor da UFRJ Paulo Roberto Pires identificou no fenômeno o “intelectual adversativo”, aquele incapaz de condenar Bolsonaro sem relativizar. “Não é raro que, usando a desonestidade como método, conclua que bolsonaristas e lulistas são faces da mesma moeda. Não são”, diz. “Vivemos cercados de intelectuais e comentaristas adversativos, que arrematam cada frase com um ‘mas’ providencial. A direita hidrófoba é inaceitável, mas a esquerda radical não fica atrás; o governo Temer é uma calamidade, mas foi engendrado pelo PT”, acrescenta.
A esquerda tem candidatos extremamente qualificados na corrida eleitoral. Ciro Gomes pensa e explica o Brasil como poucos e carrega bagagem invejável. Guilherme Boulos é uma inegável força dos movimentos sociais, com garra e adensamento intelectual impactantes. Marina Silva, embora perdida em divagações direitistas, está no campo da defesa do progressismo.Mas, enquanto tratarem a coisa pública sob a ótica definida pelo perfil conservador, serão meros agentes da dissolução da esquerda e alimentarão a sanha fascista sedenta de ódio.O Brasil precisa se livrar, sim, da polarização. Da polarização instituída pela direita. E pensar, definitivamente, fora da caixa. Da caixa criada pela direita.
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