Aldeia Barreirinha na terra indígena Araribóia, do outro lado do igarapé que separa a cidade de Arame da terra indígena. Poucas casas de taipa embrenhadas numa capoeira baixa. Devíamos conhecer o projeto embrionário de apicultura iniciado por três jovens indígenas que alguns anos antes haviam frequentado o IFMA e haviam se qualificado para iniciar a grande aventura de produzir mel usufruindo da generosidade desses valiosos bichinhos. Encontramos o Jô, o Jonas e o Francisco. Jovens simpáticos e do semblante inteligente. Acolheram-nos, eu e duas missionárias, com muita afabilidade, debaixo do salão improvisado da comunidade, coberto de telhas Brasilite e com bancos rústicos de madeira. Informamos o Jonas quanto ao nosso interesse em conhecer o projeto. Seus olhos brilharam diante do nosso surpreendente interesse. Em poucos minutos extraíram cartilhas de apicultura e o trabalho acadêmico final realizado por eles à época dos estudos. Havia na capa seis nomes. Apesar de terem sido eles os únicos a pesquisar e a trabalhar tendo como objeto a apicultura tiveram que inserir os nomes dos outros três 'karaiw' pois eles teriam tido a possibilidade financeira de arcar com as despesas de produção e de edição. Com um véu de tristeza relatou que sentiram à época, as atitudes de exclusão na hora da formação dos grupos no IFMA. Não se intimidaram e formaram o seu próprio grupo indígena dando conta do recado de forma brilhante, tanto que outros quiseram fazer parte e arcando com as despesas da publicação...
Observamos com cuidado as três colmeias próximas uma das outras e que pousavam sobre três troncos e de onde saiam e entravam por um minúsculo furo as abelhas Tiúbas. Explicaram e mostraram como fazer a divisão das colônias de abelhas e como elas iam preenchendo o espaço e se multiplicavam dentro das três pequenas caixas. A conversa fluía e também as informações e....os sonhos. Dissemos que estávamos dispostos a ajudá-los no projeto. Entreolharam-se e o sorriso apareceu com mais brilho em seus rostos. 'Como podemos apoiá-los, afinal...'? Jô tomou a palavra e sem titubear nos informou que encontrou muitas colônias de abelhas tiúba na mata que dista a poucas centenas de metros e que precisariam de mais colmeias formadas por três pequenas caixas postas uma em cima da outra. Não tinham recursos para fabricá-las. Até o motosserra fazia meses que estava à espera de conserto. Começamos a sonhar juntos: e por que não pensar numa casa no mato com vários andares de tábuas onde se poderiam abrigar várias colmeias uma ao lado da outra como havíamos observado na foto da cartilha? Um novo olhar de cumplicidade e de surpresa entre os três. Fechado: nós iriamos ajudar com telhas ecológicas e com alguns sacos de cimento para a base da nova casa para as abelhas produzirem juntas, em paz, com higiene e sendo monitoradas por eles. E eles se comprometeriam a tirar paus e tábuas de árvores secas caídas e construir um novo abrigo para as colmeias. Até no rótulo para os potes do precioso mel pensamos juntos.....Fizemos o acordo e voltamos com a certeza que algo bonito e inédito estava a acontecer na Barreirinha dos jovens Guajajara. Talvez um exemplo a ser seguido por muitas outras aldeias da imensa terra indígena do Arariboia. O tempo dirá!
fotos: Maria Pereira
fotos: Maria Pereira
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