A principal façanha política do campo conservador é fazer a militância de esquerda pensar com a cabeça da direita. As críticas contra a campanha de Haddad giram em torno de temas pré-definidos pela própria direita: “dependência de Lula”, “corrupção”, “inexperiência”, “extremismo”, “Venezuela”. A influência é tamanha a ponto de fazer o eleitor progressista ignorar o desprezo e os ataques da direita para endossar críticas de forma descontextualizada e legitimar estereótipos plantados maliciosamente pelos conservadores. Só esse fenômeno, por exemplo, é capaz de fazer a Venezuela se tornar essencial na disputa brasileira. Veja: a Argentina neoliberal quebrou, tem 1/3 de pobres. Mas a direita omite a penúria dos hermanos e manda a esquerda se preocupar com a Venezuela. E os progressistas obedecem. O PT passou 14 anos no poder e nunca deu sinais antidemocráticos. Mas a direita consegue fazer o eleitorado temer, a despeito da história, uma “venezuelização” (nunca “argentinização”) do país com o partido no governo. Atenta contra o bom senso.
Autocrítica. Nenhum partido – nem mesmo o campeão de corrupção PP, ao qual pertenceu Bolsonaro – fez qualquer tipo de autoanálise. Nenhum, e não são cobrados. O PSDB, atolado nas delações e protegido pela Justiça, deita e rola a falar dos outros. Mas a direita faz o eleitorado criticar o PT por não “admitir erros”.
Alianças. O PT é detonado, até por colegas do campo progressista, por se juntar com personagens conservadores, como Renan Calheiros. Mas a crítica é seletiva. No Rio Grande do Norte, Ciro pediu voto para Agripino Maia (DEM) e, no Ceará, o irmão dele está na chapa de Eunício de Oliveira com os petistas. Não é contraditório? Sim, mas ruim é o PT.
Dependência. Lula é, hoje, o maior estadista vivo do planeta, referendado por líderes e pensadores renomados. Acaba de receber visita e solidariedade de Noam Chomsky, intelectual dos mais prestigiados do mundo. Mas a direita distorce e criminaliza o benefício da influência do ex-presidente e seduz a esquerda a endossar o silêncio e a censura impostos ao petista.
Salienta-se, por exemplo, o “voto ignorante” em Haddad no Nordeste e esconde-se a predileção por Tiririca no Sudeste para vilanizar a região favorável ao petismo. Minimiza-se a romaria de líderes mundiais à prisão onde está Lula e a importância de movimentos como o #elenão – no dia seguinte à maior manifestação democrática já feita por mulheres no país, a manchete da Folha de SP era um cozidão de denúncias contra o núcleo da campanha de Haddad.
(Thiago Barbosa)
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