sábado, 19 de junho de 2021

XII domingo comum - Sem medo de ir à outra margem, sem medo de peitar as tempestades da travessia! (Mc. 4,35-41)

 Pelo evangelho de hoje (domingo XII), compreendemos que pouco ou nada serviu a comparação da semente microscópica da mostarda (domingo XI) para provar que ‘tamanho não é documento’. Que a ‘realeza de Deus’ germina e se amplia a partir da desprezada pequenez da semente espalhada, e não de galhos de cedro plantados num alto monte! Na história, de fato, a Realeza de Deus pode se tornar de um tamanho tão gigantesco capaz de abrigar ‘ninhos de pássaros de toda espécie’! É que Jesus convida seus discípulos a ‘ir à outra margem’ do lago, lá onde residem os pagãos, os não israelitas, para serem árvore que abriga e que acolhe. A resistência a essa saída, no entanto, se transforma em mais um conflito. Uma verdadeira tormenta que marca ainda hoje a missão da igreja de Jesus. Para que ir ao encontro desses ‘pássaros desabrigados’ se nem para os passarinhos da nossa terra conseguimos garantir assistência e acolhida? Para que deixar a segurança das nossas estruturas e afetos para se aventurar numa travessia perigosa e, possivelmente, fatal? Ocorre que a natureza do modo de governar de Deus contempla todos os seres humanos, independentemente de sua pertença, e de sua opção ideológica ou política. Os nacionalistas discípulos de Jesus tinham dentro de si a semente da rejeição ao estrangeiro, e agora, na travessia para a nova margem, estavam colhendo a tempestade da intolerância, do medo, da insegurança, e da sua própria mesquinhez. 

Quando o Papa Francisco nos alerta e nos motiva a sermos ‘igreja em saída’ o faz porque tem um olhar fixo na prática original de Jesus, e deseja manter fidelidade à visão do Mestre. Nada mais atual como hoje, se armar de coragem e ousadia, e rumar para a ‘outra margem’, lá onde ainda há multidões famintas, escravizadas, e violentadas em sua dignidade. Nada mais coerente com o ‘convertido Jesus’ - que só queria cuidar das ‘ovelhas perdidas da casa de Israel’ - e nos abrir àquelas populações e categorias sociais que nunca entrarão nos nossos templos climatizados, nem nas nossas higienizadas sacristias, e nem jamais militarão nos nossos movimentos eclesiais. Talvez tenha chegado a hora de ‘mandar calar a boca, e silenciar’ os espíritos maus do comodismo, os defensores dos preceitos e da pureza da identidade cristã. Historicamente, os ‘bárbaros e selvagens, os hereges e agnósticos’, aqueles que vivem na outra margem, quando se apropriam da visão e da prática de Jesus de Nazaré não só mudam o seu próprio estilo de vida, como trazem para dentro da igreja um novo e inédito elã. Uma verdadeira primavera que sacode o torpor anestesiante de tantos ‘devotos’ apáticos, e motiva a igreja para deixar de ser uma seita étnica e se tornar o que deveria ser de fato: árvore caseira, e não cedro majestoso que abriga todos os seres vivos da nossa ‘Casa Comum’!


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