Como pastor, Francisco tem conquistado a imaginação do mundo com a sua compaixão e abertura a todas as pessoas. Ele tem colocado o amor, especialmente o amor pelos pobres, no centro das atenções em sua pregação do Evangelho. Como líder mundial, ele tem colocado o seu papado diretamente do lado dos migrantes e refugiados. E tem sido uma voz profética contra o aquecimento global e os excessos do capitalismo. E, dentro da Igreja, ele tem encorajado o diálogo e um estilo de governo mais consultivo: dito de maneira direta, a Congregação para a Doutrina da Fé não atua mais como a Inquisição de antigamente.
Ele tem tido menos sucesso em conquistar o establishment clerical para a sua visão de Igreja. Em seus oito anos como papa, Francisco pouco alterou o establishment clerical que herdou. Muitos bispos e padres da Cúria Romana e do mundo inteiro acham que a sua eleição foi um erro e esperam um retorno àquilo que consideram normal no próximo papado. Eles acham que ele não enfatizou o dogma e as regras o suficiente, então não estão cooperando. Mesmo assim, Francisco tem tratado esses opositores com a gentileza de um pastor que espera a sua conversão. Qualquer outro CEO simplesmente substituiria quem não está dentro da sua agenda, mas Francisco se recusa a demitir pessoas.
Como resultado, ele tem esperado até que as autoridades da Cúria e os bispos alcancem a idade da aposentadoria. Para que tal estratégia surta efeito, é necessário um papado muito longo, como o reinado de 27 anos de João Paulo II, seguido pelos oito anos de Bento XVI. Durante esse período de 35 anos, João Paulo II e Bento XVI refizeram o episcopado à sua imagem. O teste decisivo era a lealdade e a ortodoxia como eles a definiam. Qualquer pessoa que questionasse a posição do papado sobre o controle de natalidade, os padres casados ou as mulheres padres era desqualificado. Esses bispos, então, renovaram os seminários, que produziram o clero que temos hoje.
Reformar a Igreja Católica leva décadas, e não anos. Se o seu papado for considerado um fracasso, será porque Francisco fracassou em substituir ou em sobreviver ao establishment clerical instituído por João Paulo II e Bento XVI. Seu papado só terá sucesso se ele for seguido por papas que estejam em sintonia com a sua abordagem do catolicismo, e isso não está garantido. Ele nomeou homens simpáticos para o Colégio dos Cardeais, mas os conclaves são imprevisíveis, como a sua própria eleição mostrou.
Thomas J. Reese, jesuíta estadunidense, ex-editor-chefe da revista América, dos jesuítas dos Estados Unidos, de 1998 a 2005, e autor de “O Vaticano por dentro” (Ed. Edusc, 1998)
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