Repensar o celibato e a forma de considerar a sexualidade, mulheres em papéis de responsabilidade, formação dos sacerdotes. A enésima crise de abusos contra menores parece ter dado um impulso a reformas que agora são exigidas por alguns dos cardeais de maior autoridade. Reinhard Marx, arcebispo de Munique, já havia falado sobre isso depois do relatório (encomendado por ele mesmo) sobre sua diocese, 497 casos desde o pós-guerra: “Acertar as contas com os abusos não pode ser separado do caminho da mudança e reforma da Igreja". E agora quem fala sobre isso é o cardeal luxemburguês Jean-Claude Hollerich, 63 anos, jesuíta como Francisco, escolhido pelo Papa como relator geral no Sínodo que se reunirá no Vaticano no próximo ano.
Isso não significa que as reformas serão aprovadas pelo Sínodo, mas que a discussão está aberta, sem reticências. Em longa entrevista ao La Croix-L'Hebdo, o semanário do cotidiano católico francês, o Cardeal Hollerich partiu do relatório sobre os abusos na França, 216.000 vítimas do clero desde 1950: "Há um erro sistêmico... Devemos adotar mudanças. Parece-me claro que esses temas estarão na mente e no coração de todos durante o processo sinodal". Entre as "mudanças sistêmicas", Hollerich fala do celibato: "Perguntemo-nos francamente se um padre deve necessariamente ser celibatário. Eu tenho uma opinião muito elevada sobre o celibato, mas é indispensável?
Tenho diáconos casados em minha diocese que exercem seu diaconato de maneira maravilhosa. Por que também não ter padres casados?”. E nesse "também" há uma hipótese subjacente há anos, a dupla disciplina. O celibato não é um dogma, na Igreja Católica já existem padres casados: a disciplina monástica vale para a Igreja latina, mas naquelas católicas orientais há um clero celibatário e um casado. Mas o cardeal vai mais longe. “Se as mulheres e os jovens tivessem tido mais voz a respeito, essas coisas teriam sido descobertas muito antes.' E, além disso, há a formação do clero: “Deve mudar. Não deveria ser centrada apenas na liturgia. Formar os sacerdotes é um dever de toda a Igreja, leigos e mulheres devem ter voz a respeito". E ainda a sexualidade: “Até agora tivemos uma visão bastante reprimida. Obviamente, não se trata de dizer às pessoas que podem fazer qualquer coisa ou de abolir a moralidade, mas acredito que temos que dizer que a sexualidade é um dom de Deus.
Nós o sabemos, mas o dizemos? Não tenho certeza". Além disso, “os sacerdotes também devem poder falar da sua sexualidade e serem ouvidos se tiverem dificuldade em viver o seu celibato”, considera Hollerich: "Quanto aos padres homossexuais, e são muitos, seria bom se pudessem conversar a respeito com seus bispos sem que este os condenasse". (Fonte: IHU)
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