Sou teólogo, ou assim me acho: de um deus anônimo, sem alma, sem rosto, e jamais conhecido:
De um ser adorado e idolatrado que estaria presente em cada átomo e em cada flor,
Criador e senhor de nebulosas e constelações e pelas infindáveis fendas do cosmos sempre imergido,
Mas que, de seus temores e amores todo ser mortal se nutriu com misterioso estupor.
Sou teólogo, ou assim me acho: de catedrais e de altares, onde atemorizados se ajoelhavam os ancestrais;
De seus clamores e ritos, de fórmulas e rezas onde a promessa era selada,
E entre címbalos e danças, no acre olor do incenso e das carnes sacrificadas pelos magistrais,
O onipotente invisível dos finitos era aclamado e, enfim, sua ira podia ser aplacada.
Sou teólogo, ou assim me acho: de um deus que foi criado e manipulado à imagem da criatura:
De um rei que reprime, de um patrão que extorque, de um religioso que ameaça,
De um pai que controla e que legisla, de um varão, macho violento que perdeu toda a brandura,
Não há o que contemplar e confiar numa tal projeção humana de infame trapaça.
Sou teólogo, ou assim me acho: de escritos sagrados de humana feitura, e que inspirados jamais eles foram;
De paraísos perdidos e de infernos malditos, ausentes de anjos e de demônios,
Em que almas e corpos no medo e no terror foram batizados, e em patíbulos e rogos muitos fervorosos incendiaram;
Porque procurar ‘deus’ numa criação dominada por criaturas sem fé e sem sonhos?
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