O xamã Yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert estão em Cannes para participar da apresentação do documentário “A Queda no Céu”. O filme integra a prestigiosa mostra paralela Quinzena de Cineastas. O longa, dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, sobre a cosmologia Yanomami, é baseado no livro que leva o mesmo nome, escrito por Kopenawa e o antropólogo francês. “A Queda do Céu” foi publicado inicialmente em francês em 2010. A tradução para o português é de 2013. O filme levou sete anos para ficar pronto e foi rodado na Amazônia, no território e na língua Yanomami. Davi Kopenawa, um dos principais porta-vozes dos povos indígenas brasileiros na atualidade, é o narrador, o guia do documentário. O longa é centrado na festa Reahu, o ritual funerário dos Yanomami.
Em entrevista à RFI em Cannes, o xamã disse que aceitou a proposta dos diretores de transpor o livro para o cinema e o convite para participar do Festival de Cannes para “conhecer” outras pessoas e “para falar sobre a nossa cultura Yanomami, nossa língua diferente, para você entender melhor por que vocês não conhecem o meu povo”. Desde a publicação do livro, em 2010, as ameças contra os Yanomami, a floresta e o meio ambiente pioraram muito. O povo indígena viveu uma crise humanitária terrível após a invasão de garimpeiros ao seu território durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nem a criação do Ministério dos Povos indígenas, nem medidas adotadas pelo governo Lula no ano passado resolveram a situação. O xamã avalia que os garimpeiros podem até sair do território, mas “a doença” que eles levaram vai continuar. “O pessoal pode sair, pode ir embora, tirar todo o ouro, que vai ficar é doença, a água poluída. Esse acontecimento não tem homem que vai curar”, denuncia.
Ministério dos Povos Indígenas
Segundo ele, a criação do Ministério dos Povos Indígenas no governo Lula “não consegue” resolver a situação porque “não conhece” os Yanomami, porque “não anda”. Kopenawa critica os funcionários de Brasília que só foram na comunidade “para ficar olhando, tirar foto e depois vão embora. Ele afirma que “não tem remédio, não tem pessoa que trabalha lá” e que seu povo continua morrendo. “Ele (o governo) só foi lá para dizer que está trabalhando. Isso aí não é verdade, certo? Isso aí é para enganar você que o Ministério dos Povos Indígenas está trabalhando. Mas, ele só quer trabalhar na cidade, mas para trabalhar com meu povo, é difícil para ele”, critica.
Kopenawa lembra que muita gente no Brasil pensa que “não tem mais indígena verdadeiro” no país. As imagens do filme “A Queda do Céu” e o livro mostram que “o indígena verdadeiro” existe e que “o povo originário brasileiro está lutando para todo mundo, para segurar aquele céu. Essa é a minha luta, esse é o meu papel de liderança, entendeu?”, questiona.
(Fonte:IHU)
Nenhum comentário:
Postar um comentário