Alguns anos atrás o papa editou uma encíclica sobre a caridade/amor. Faz uma série de distinções e explicações sobre as várias acepções do conceito. Ora fala em amor entendido como ‘filantropia’, ora como ‘agape/fraternidade’, e, enfim como ‘eros/amor carnal’. Um verdadeiro exercício de hermenêutica. As sociedades assim denominadas ‘tribais’ não possuem palavras que expressem conceitos, abstrações. Não existe, por exemplo, a palavra/conceito ‘amor’ no seu dicionário. Menos ainda para explicitar suas nuanças. Existe, isso sim, nesse caso concreto, expressões em que a pessoa ‘protege o outro, ajuda o outro, acolhe o outro, está próximo do outro’. Ou seja, exemplificações, não conceitos abstratos. Nós, não indígenas, tornamo-nos ‘filósofos e malabaristas da palavra’. No intuito de colher as matizes, os detalhes, a pluralidade conceitual criamos muitas palavras/sinônimos. Muitas vezes para ‘traduzir’ algo que na realidade é ‘intraduzível’. Paradoxalmente, podemos correr o perigo de ‘reduzir’, quando não distorcer, o sentido profundo de uma ‘prática’, - não de um conceito’.
Seja como for, Jesus afirmou que o principal mandamento é ‘amar’ a Deus com todo o nosso ser (coração, alma, entendimento) e ‘amar’ nosso próximo como a nós mesmos. Se Jesus não explicita a qualidade desse amor, deixa claro ‘como’ ele deve se dar. Ou seja, o seu grau de intensidade. Deixa evidente, também, que um está vinculado ao outro. E de forma tão profunda que ‘um não tem sentido sem o outro’. Mais do que isso: o amor a Deus (não especifica que tipo de amor) só se revela tal no ‘amor ao próximo’. É este que revela se existe o primeiro. O amor a Deus, embora tomado isoladamente, não pode ser medido/quantificado, e nem manifestado mediante gestos cultuais. Já o amor ao próximo, embora também esse seja de alguma forma insondável, torna-se visível em gestos concretos de acolhida, e de proximidade afetiva e efetiva. Jesus nos diz que os mesmos cuidados que temos que ter para conosco deveríamos tê-los para com o nosso próximo. Jesus supõe que nós cuidamos de nós mesmos com amor e respeito profundos! O amor ao próximo é fruto do amor inspirador que ‘vem’ e que ‘se deve’ a Deus. Ao mesmo tempo, amando o próximo alimentamos o ‘amor a Deus’, e manifestamos o ‘amor de Deus’ para conosco. Ou seja, ao termos compaixão/afeto pelo próximo manifestamos ‘como é’ (a essência) o amor de Deus para conosco, e não somente o ‘amor que devemos a ele’. É um amor de mão dupla. Não uma mera atitude unidirecional. Alienada e alienante. Desencarnada. Pensando que amamos Deus na medida em que O invocamos e obedecemos a normas cultuais.
Ao contrário, somos chamados a provar e a comprovar que efetivamente ‘Deus nos ama’ mediante o amor que expressamos/manifestamos ao nosso próximo. Daí podemos entender as palavras de João: ’Como podem dizer que amam a Deus que não vêem, se não sabem amar o seu irmão que vêem?’ Tudo isso porque Jesus compreendeu que Deus não é um ser abstrato que está na estratosfera. Dissociado dos seres que O manifestam. Jesus nos ensina Deus que está ‘dentre nós’ e ‘dentro de nós’. O verdadeiro culto e amor a Ele se dá mediante gestos concretos para amenizar toda dor e libertar de toda escravidão os seus filhos e filhas em que Ele reside. O amor a ele se torna explícito e histórico no serviço gratuito e apaixonado. Na compaixão intensa e inconformada. No olhar meigo e firme. No abraço forte e caloroso, sem preconceitos e sem falsos pudores. Só assim o amor, ‘faísca de Deus’ poderá re-acender o fogo brando que ainda temos. E vencer a indiferença que está dentro de nós. E que consome o nosso anseio de felicidade.
Ao contrário, somos chamados a provar e a comprovar que efetivamente ‘Deus nos ama’ mediante o amor que expressamos/manifestamos ao nosso próximo. Daí podemos entender as palavras de João: ’Como podem dizer que amam a Deus que não vêem, se não sabem amar o seu irmão que vêem?’ Tudo isso porque Jesus compreendeu que Deus não é um ser abstrato que está na estratosfera. Dissociado dos seres que O manifestam. Jesus nos ensina Deus que está ‘dentre nós’ e ‘dentro de nós’. O verdadeiro culto e amor a Ele se dá mediante gestos concretos para amenizar toda dor e libertar de toda escravidão os seus filhos e filhas em que Ele reside. O amor a ele se torna explícito e histórico no serviço gratuito e apaixonado. Na compaixão intensa e inconformada. No olhar meigo e firme. No abraço forte e caloroso, sem preconceitos e sem falsos pudores. Só assim o amor, ‘faísca de Deus’ poderá re-acender o fogo brando que ainda temos. E vencer a indiferença que está dentro de nós. E que consome o nosso anseio de felicidade.
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