sábado, 1 de outubro de 2011

A gestão da vinha/humanidade será entregue a uma nova geração. A atual só produziu falência! (Mt.21.33-43)





Vivemos uma época excepcional. Há uma convergência de descobertas, acontecimentos, transformações e crises como nunca houve na história da humanidade. Invenções e descobertas em todos os campos, de forma simultânea e universal, e num curtíssimo espaço de tempo. Relacionado a isso, todavia, manifestam-se crises de igual envergadura, amplas e universais. O diferencial, porém, nesse momento, é que essas crises não têm um caráter passageiro. Parecem salientar uma crise de fundo, de caráter permanente. É como se uma civilização inteira, - não um modelo civilizatório, - esteja decretando o seu próprio e definitivo esgotamento. Por causa das suas contradições e devaneios que já não consegue e não quer controlar. A crise econômico-financeira atual não é a típica crise de um recente modelo capitalista em que se alternavam explosões de produção e consumo a retrações e estagnações. A atual crise revela o delírio destrutivo deflagrado pela própria humanidade, em particular por grupos econômicos e instituições preocupadas com a superprodução. E com a cumplicidade dolosa de uma sociedade sempre mais ‘individualizada’, e indiferente ao seu semelhante. Basta dizer que somente a riqueza acumulada pelas 250 ‘pessoas’ mais ricas do planeta poderia resolver de vez os problemas educacionais, alimentares e de saúde de um bilhão de pobres e miseráveis desse planeta. Isto diz muito sobre o alto nível de loucura a que chegamos. Às conquistas tecnológicas não têm correspondido avanços na efetivação dos direitos tais como a equidade, o respeito pelo habitat das espécies, o acesso universal à justiça, a universalização do saber, etc. O desconcertante, contudo, é que ‘ninguém’ vai pedir prestação de conta de tal situação, pois cada nação, cada grande empresa sente-se dona do seu próprio nariz. Autônoma e auto-suficiente para agir como melhor lhe apetece. Não possuímos, nessa vinha esfacelada, formas organizacionais ou instituições de caráter universal que exijam quais frutos esses ‘vinhateiros’ deveriam produzir....



A parábola de Jesus narrada por Mateus parece se inserir nesse contexto, embora nasça num âmbito específico. Tem como pano de fundo o presente histórico conflituoso e contraditório da sociedade israelita daquela época. Mas o evangelista trabalha o texto de forma tal que se torna extensivo e aplicável à ‘vinha humana’ como um todo. Não estranhamos a irresponsabilidade dos vinhateiros. Nós os vemos todos os dias no nosso meio. Prepotentes, arrogantes, achando que eles podem tudo sobre todos. Tampouco estranhamos a sua ambição e sede de poder e de acumular tudo o que pertence ao ‘dono/criador’. Nem ficamos surpreendidos com as ações homicidas deles. Afinal, ainda hoje se matam os ‘profetas da desgraça e da resistência’. Os que denunciam os desmatamentos, o aquecimento global, o trabalho escravo, a super-exploração de homens, mulheres e crianças. Aqueles que não se conformam e insurgem contra a produção de tantas formas destrutivas e autodestrutivas.



É a conclusão da parábola que nos deixa ou deveria nos deixar chocados. Essa incapacidade de ‘produzir frutos’ de justiça, de fraternidade, de equidade e de respeito será punida com a transferência da coordenação de gerir os bens da vida, - a vinha da humanidade, - para um ‘outro povo’ que saiba fazer isso. A atual geração se demonstrou incapaz de gerir com equilíbrio e sabedoria a vinha/humanidade. Produziu falência. Vem tentando se apropriar de todos os bens que pertencem ao único Criador e verdadeiro gestor. Entretanto, em que pese tudo isso, dentro dela está surgindo uma nova geração. Um novo povo. Talvez mais livre, mais humano, menos ambicioso, mais sóbrio. Será esse povo/geração que passará a gerir a vinha/humanidade. Corrigindo distorções, derrubando delírios, extirpando manias de grandeza, e eliminando de vez a insensatez de quantos continuam a se achar donos da verdade. E de um mundo que já não mais lhes pertence!

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