sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Todos são convidados a construir a nova humanidade, mas é preciso 'vestir a camisa' da Realeza de Deus! (Mt. 22, 1-14)


Todos nós, cotidianamente, consciente ou inconscientemente, fazemos análise da realidade em que vivemos. Detectamos sinais. Assistimos a acontecimentos. E deles participamos. Ouvimos comentários. Classificamos e avaliamos Reagimos e agimos. Colocamos em relação causas e efeitos. Tomamos posição. Decidimos. Claro, alguém faz tudo isso de forma ‘supostamente científica’. Profunda e ampla. Outros, de forma mais superficial. Talvez por possuir menos elementos que outros para fazer a mesma coisa. O fato é que cada ser humano analisa e reage perante uma determinada realidade. Próxima ou distante que seja. Cada um de nós avalia e alimenta sonhos e expectativas. E trabalha para moldar uma realidade que venha de encontro ao que ele sonha ou espera. A parábola proposta por Mateus joga uma luz ampla sobre como Jesus analisou a história/realidade de Israel, e como ele reagiu. Como avaliou, e o que sonhou para Israel. No intuito de construir uma ‘nova realidade’ para o seu povo.

Pela parábola podemos entrever que para Jesus determinados setores da classe dirigente do povo de Israel – a casta sacerdotal, principalmente, - atribuíram à nação uma ‘eleição exclusiva’ por parte de Deus. Israel se considerou, de forma arrogante e etnocêntrica, o povo eleito de Deus. O seu preferido. Aquele que devia ser luz das demais nações. Israel achava que ao dar sinais e frutos de justiça, equidade, e coesão interna, todos os demais povos, vizinhos e distantes, o imitariam. E poderiam aderir ao seu modo de ser e crer. O seu próprio Deus, Javé, se encarregaria de preparar sobre o ‘seu santo monte’, - em Israel, claro, - um grande banquete. Um banquete utópico. Simbólico, mas real e histórico. Nele, nenhum povo seria excluído. Todos poderiam comer e beber do bom e do melhor. Mais: o deus de Israel enxugaria as lágrimas de toda vítima da guerra e da violência. E poria fim ao luto dos desesperados. Tudo isso originou uma espécie de ‘complexo de superioridade’ perante os demais povos. A classe dirigente de Israel achou que bastava isso para ter Deus do seu lado. Mesmo sem praticar a justiça e a equidade que ele mesmo havia determinado para si como condição essencial para obter salvação e benevolência divina. Um deus, enfim, criado a sua própria imagem e semelhança, funcional aos seus interesses de casta. Um deus que continuasse a protegê-lo e a confirmá-lo na sua equivocada autoconsciência. Jesus, na parábola, analisa e condena esse ‘delírio coletivo’ em que Israel havia entrado. E reage.

Para Jesus os dirigentes de Israel nunca quiseram aceitar de aderir ao projeto/banquete de comunhão, equidade, justiça e fraternidade oferecido pelo mesmo deus que eles invocavam. E do qual se sentiam os escolhidos. Eles, que são os mesmos vinhateiros da parábola de domingo passado, perderam a sua chance histórica. O convite, agora, para participar e construir um novo banquete/aliança/comunhão estava sendo dirigido àquelas pessoas e setores da sociedade de Israel que os ‘arrogantes eleitos’ haviam excluído e condenado. Na avaliação de Jesus, de fato, só quem está sentindo na pele o que significa exclusão, abandono e discriminação é que pode e deve reagir. E construir um banquete alternativo, sem a presença dos seus algozes. Nele não haverá mais grupos privilegiados, seletos, supostamente preparados, qualificados e ‘escolhidos a dedo’ para realizar o sonho de Deus. Agora, todos, bons e maus, israelitas ou não, - recolhidos de todas as esquinas da humanidade, - são os verdadeiros convidados a preparar e a participar do novo banquete. O passado já foi. Inicia-se, agora, uma nova dinâmica e uma ‘nova prática administrativa’. Jesus, porém, nos alerta: não é suficiente ‘entrar e fazer parte do banquete’. É preciso ‘vestir a camisa’! Assumir a sua lógica, as suas condições e dinâmicas. Arcar com as responsabilidades, expor-se e arregaçar as mangas, pois ‘promover comunhão, aliança, fraternidade’ exige tudo isso! Já temos muitos ‘penetras’, passivos, medrosos e acomodados. Que ‘comem e bebem’ a própria e a alheia destruição/condenação.

PS - o autor adverte: qualquer semelhança com a realidade atual é mera coincidência!

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