Cerca de quinhentas pessoas participaram, na terça-feira 16 de outubro, da terceira reunião pública organizada por IBAMA e Vale em vista da duplicação da Estrada de Ferro Carajás. O órgão ambiental e a empresa de mineração pretendem negociar os conflitos com mais de cem comunidades ao longo de 900 Km de trilhos somente em quatro ‘reuniões públicas’. Em Alto Alegre do Pindaré (MA) estavam presentes líderes de comunidades e movimentos sociais vindo de cidades e povoados muito distantes. Os presentes denunciaram numerosos conflitos provocados pela ferrovia. As casas que sempre seguraram íntegras em suas estruturas, desde quando eram de taipa e barro, agora que são de alvenaria abrem-se em grandes rachaduras por conta das vibrações do trem. O ruído dos trens passando atrapalha o sono, o estudo e o descanso dos doentes. Em Alto Alegre o novo hospital em construção já apresenta rachaduras em sua estrutura e, conforme parecer do responsável da construção, isso se deve à passagem cotidiana de dezenas e dezenas de trens. Reassentamentos forçados estão previstos para as famílias que moram a menos de 40 metros da nova ferrovia que será construída. Ainda, porém, não se sabe quantos, onde e como.Até alguns cemitérios deverão ser deslocados.
Vários moradores de Alto Alegre denunciaram casos de prostituição de crianças e adolescentes em que os maiores envolvidos seriam funcionários da Vale.‘Aprontam’ com meninas menores de idade e logo viajam para outros territórios. Em vários localidades a ferrovia corta os povoados ao meio. Quando o trem para é comum ver crianças passarem por debaixo dos vagões para irem para escola, mulheres carregando água no balde e tentando atravessar entre um vagão e outro. Acidentes mortais de pessoas e animais são uma triste rotina nesse município. Pe. Dário, missionário comboniano membro da rede Justiça nos Trilhos, lamentou na reunião pública que a Vale somente agora tenta proteger o acesso aos trilhos com segurança. 'Por que a Vale não se preocupou em garantir essa proteção desde o começo da construção da ferrovia? Considero a empresa responsável pelas centenas de mortes acontecidas até hoje' –afirmou. Até agora, a empresa definiu em seus escritórios onde deverão ser colocados viadutos e passarelas; mas a população reivindica o direito de indicar quantas passagens são necessárias e onde devem ser colocadas. Os membros do Fórum de Políticas Públicas de Buriticupu.concluem:'É mesmo como em campanha eleitoral: nesse momento, nós somos importantes para a Vale, que precisa de nós para conseguir o licenciamento da duplicação dos trilhos. Se não nos organizarmos agora, logo que a empresa conseguir o que está pleiteando voltará a nos esquecer, como ela já disse em seus documentos. Seremos simples interferências no meio do seu caminho de lucro arrasador'. (Fonte: Pe. Dario Bossi)
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