É um Jesus totalmente transformado aquele que regressa à Galileia, após ter descoberto, no deserto, a sua vocação profética. Parece um Jesus que corre atrás do tempo perdido. Que compreende que passou tempo demais na oficina paterna, sem perceber a urgência daquele momento histórico. Quase ignorando que Israel estava falindo como nação, que as pessoas estavam perdendo a esperança na mudança, e que algo devia ser feito. O mesmo ocorre conosco quando ao rever a nossa vida descobrimos o seu verdadeiro sentido e valor. Cada pessoa tem os seus próprios ritmos para adquirir essa nova consciência perante a vida e a história. Também Jesus homem não escapa disso. Vale, contudo, o ditado ‘antes tarde do que nunca’! É um fato que o ‘novo’ Jesus acabou fazendo uma opção clara, desconcertante e paradoxal. Jesus apostou naqueles grupos sociais que viviam á margem da sociedade, invisíveis e sem poder de influência, mas que no seu modo de entender, alimentavam ainda uma carga de revolta e de expectativa muito grande. Tratava-se, na realidade, de agir de acordo com uma determinada análise da realidade social e política da época. E Jesus deixou claro qual foi a sua análise, e qual foi o seu modo de proceder. Enfim, a sua aposta social e religiosa para reerguer Israel.
Jesus não aposta nos ‘ricos’ e abastados, nos auto-suficientes, que não sentem a necessidade de serem apoiados pelos outros, pois eles, supostamente, já possuem tudo. E tudo compram com o poder de suas riquezas e do seu prestígio. Eles não precisam ouvir ‘boas notícias’ pois eles se consideram ‘boas notícias’ para os demais. Jesus, tampouco, aposta naqueles que ‘enxergam’ porque eles, supostamente, já sabem tudo, e possuem uma resposta para tudo. Acham-se ‘videntes’, mas são incapazes de ‘enxergar’ o novo de Deus que vem surgindo cotidianamente, inclusive por meio deles e em favor eles. Estão viciados e ‘cegos’ em seu modo de compreender os acontecimentos da história. Jesus não aposta naqueles que, supostamente, se acham livres. Que não se deixam prender e condicionar por nada e por ninguém. Que por se considerarem tão livres interiormente agem acima do bem e do mal. Que não percebem que estão presos à imagem distorcida que eles mesmos criaram de si: se acham os únicos senhores de si mesmos e dos outros, mas são escravos da sua arrogância e da sua prepotência. Jesus não aposta, enfim, naqueles que governam e que, por isso, dominam e oprimem os outros. Não aposta naqueles que se arvoram a iluminados e capacitados para dirigir pessoas, e gerenciar coisas. Que em nome do ‘bem comum’ manipulam, corrompem e oprimem. Jesus aposta, paradoxalmente, nos pobres, nos cegos, nos escravos e oprimidos da sua sociedade. Jesus não os convida para serem objetos preferenciais de uma ação solitária e vanguardista de emancipação, mas os convoca para serem seus aliados num novo projeto de sociedade. Na contramão dos ‘sábios e dos inteligentes’, dos ‘fartos e dos potentes’, dos ‘religiosos e dos crentes’ bitolados do seu tempo!
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