Ser profeta acarreta necessariamente a impopularidade e a rejeição. É preciso desconfiar quando uma pessoa consegue obter amplos consensos e altos níveis de aprovação. Às vezes, isto pode ser um claro indício de que ele tentou agradar a gregos e troianos. Que soube fazer média e teve jogo de cintura tal que, afinal, acabou não incomodando ninguém. Média e jogo diplomático que cheiram a cumplicidade e omissão. O profeta não aquele que proclama em alta voz o que o outro está pensando ou está desejando ouvir. Tampouco o profeta deseja ser forçosamente o ‘do contra’, mas tem consciência que o seu papel e missão é colocar o dedo nas feridas abertas da sociedade, da igreja, da família, da instituição, seja lá qual for. Profeta é aquele que consegue identificar as contradições, fazer emergir as incoerências, denunciar as ameaças, e alertar sobre eventuais retrocessos que colocam em risco a vida plena das pessoas e dos seres vivos. Ao mesmo tempo, porém, o profeta tem a ousadia de apontar com clareza e contundência o horizonte a ser seguido que, quase sempre, paradoxalmente, se distancia daquele almejado e esperado pela maioria das pessoas. Não existe, portanto, um profeta que não seja incômodo e impopular para quase todas as classes sociais. De fato, o profeta é tão livre que dificilmente ‘poupa’ alguém. Ninguém escapa da sua fúria transformadora: nem parentes, nem amigos, nem autoridades, nem os intocáveis da hora. O profeta é aquele que vive o momento presente como se fosse o determinante. A última chance que Deus dá à humanidade. Como não considerar ‘louca’ uma pessoa que age assim?
Apesar de Jesus de Nazaré ter assumido a sua consciência de profeta por ocasião do batismo, só na sinagoga de Nazaré, sua cidade natal, entre os seus, é que explicita as típicas características do ser profeta. As dos grandes profetas, aqueles que não são assalariados, nem protegidos pelos palacianos, e nem bajuladores do alto clero e dos ‘sumos sacerdotes’. Dos profetas que percebem que este momento é ‘o momento de Deus’, a chance inédita e única que não se pode desperdiçar. A chance de reconhecer que Deus não é um ídolo construído a imagem e semelhança de uma elite religiosa narco-nacionalista, arrogante e presunçosa, mas que é o Deus de todos, dos ateus e dos pagãos estrangeiros, dos impuros e dos sem renda. A chance de provar que a salvação de um povo não vem por meio de um imaginário e fantasmagórico messias ungido nos palácios reais, mas vem dos filhos e filhas de tantos ‘Josés e Marias’, carpinteiros e marceneiros, lavradores e catadores, professores e lavadores, cujos familiares e primos são conhecidos por todos nós. De tantos profetas calados e silenciados, mas cujos gestos continuam apontando a direção para o mesmo e o único horizonte que os doutores e os escribas de hoje querem suprimir.
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