A mídia continua ainda tendo seus olhos voltados aos últimos acontecimentos vaticanos: a renúncia a papa de Josef Ratzinger e às sempre mais obscuras causas do seu gesto. Haverá ainda ‘muito pano’ para ‘pouca manga’, mas inutilmente! De fato, venham de onde vierem os comentários e análises até aqui divulgadas dão conta ainda de uma ‘igreja institucional’, aquela ligada somente ao exercício do governo, a um ‘estado’, a uma ‘entidade política’. Não foi essa a ‘configuração institucional’ que Jesus e as primeiras comunidades queriam. Aliás, eles nem queriam ‘a igreja’ como instituição e como entidade política! Sabedores que eram de que toda instituição, afinal, mata o carisma e a inspiração inicial. Algo constatável na história de ontem e de hoje. Cabe, portanto, agora, dirigir o nosso olhar para ‘aquela igreja’ que sempre viveu à margem dessa ‘outra’, a institucional e que é a única capaz de se insinuar paulatinamente na história e produzir mudanças inéditas. Mesmo sem desconhecer que um mínimo de ‘institucionalização’ é imprescindível, principalmente nas complexidades hodiernas, faz-se urgente, nesse momento, apostar naqueles movimentos e conjunto de aspirações que priorizam o carisma e a ‘inspiração original’ de Jesus de Nazaré e do seu grupo.
As necessárias e sempre mais urgentes mudanças que se afirma de diferentes partes que devem acontecer na ‘igreja’ não serão produzidas por um papa ou pela instituição que ele representa. Mesmo que ousadas e proféticas (segundo quem, para quem e aonde?) não surtiriam efeito se não apontassem para mais participação, mais respeito, mais sobriedade. E se não forem acolhidas por pessoas sempre mais identificadas com determinados valores e opções éticas, algo desafiador no mundo de hoje tão deseducado para isso. A falta de sensibilidade e de atenção aos verdadeiros valores que dão sentido à existência humana por parte da instituição igreja’ é que vem produzindo não somente uma crise sistêmica no seu seio, mas também na própria concepção do cristianismo vivenciado e veiculado por pessoas não necessariamente praticantes. Sem idealizações e sem ignorar as contradições pessoais e coletivas que nos acompanham sistematicamente no nosso dia a dia é imprescindível ‘voltar’, - sem regredir ao passado cronológico, - às ‘células familiares’ ou às pequenas comunidades geradoras de uma sempre mais vivaz pluralidade ministerial, sem ‘chefes de estado’, nem ‘consistórios’, nem ‘cúrias’, mas com tantos Josés, Antônios, Franciscos, e tantas Marias, Anas, Lurdes que a partir da inspiração do ‘mesmo e diferente’ Jesus de Nazaré procuram viver com intensidade e criatividade a sua fé. Uma fé pessoal, comunitária, histórica, comprometida, que as instituições sempre tenderão a controlar e a matar!
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