Há um ditado italiano segundo o qual ’quem faz por si faz por três’ – ‘chi fá da sé fá per tre.’ Uma clara negação da construção coletiva e do valor da relação com o outro. A exaltação do individualismo mais mesquinho, mas supostamente eficiente. A desconfiança, enfim, de que ao ter mais que uma pessoa para executar uma determinada tarefa estaria ameaçada a sua efetiva realização. Segundo essa postura o ‘outro’ em lugar de somar poderia puxar para uma direção não desejada pelo ‘um’, o indivíduo solitário. Trindade é, ao contrário, reconhecer que nós humanos somos ‘um’ entre nós e com Deus que é fonte e inspiração de comunhão. Trindade é crer que ‘o outro’ que está ao meu lado é manifestação daquele Deus que é ‘um’ conosco. Celebrar a Trindade não é repetir litúrgica e mecanicamente uma formulação doutrinal histórica e culturalmente elaborada por uma elite teológica e imperial desconectada com o mundo e com as ‘criaturas divinas’ que vivem nele. Nem tampouco é crer no ‘deus’ invocado solenemente por governantes e senhores para justificar suas atrocidades e abusos. Não é também o ‘deus’ dos falsos piedosos aclamado para consolar e conformar as vítimas das escravidões e das injustiças humanas.
Celebrar a Trindade é se aproximar com humildade e respeito ao ‘Deus de Jesus de Nazaré’. Ver nessa ‘criatura divina’, Jesus de Nazaré, em seus gestos profundamente humanos, de relação compassiva e amorosa com ‘os outros’, o rosto do Deus invisível e não plenamente compreensível. Jesus de Nazaré nos deixou intuir e nos revelou, embora parcialmente, quais são os traços identitários do Deus que está conosco, que caminha conosco, e que está dentro de nós. O Deus que não vemos, mas que podemos sentir. Aquele que não quer ‘fazer por si porque faria por três’, mas o Deus que mesmo sendo ‘todo-poderoso’ necessita dos seus filhos e filhas para continuar a ser....Deus. Um Deus Humano que paradoxalmente deixaria de ser Deus se Ele não necessitasse e não se relacionasse com as suas criaturas. Afinal são elas que O descobrem, O revelam e O sentem presente e atuante em suas vidas, mesmo que indigna e parcialmente. Trindade não é, portanto, uma mera confissão de fé na comunhão existente entre três ‘pessoas divinas’, teológica e ortodoxamente definidas, mas reconhecer e provar com gestos e opções históricas e concretas que nós agimos humana e amorosamente porque somos ‘um’ com Deus e Ele se revela e constrói através de nós ‘humanos divinos’. Nós somos ‘um’ e ‘três’!
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