Quantas vezes nos flagramos fugindo de situações de dor. O sofrimento alheio e próprio nos incomoda. Traz à tona a nossa fragilidade. Descobrimos que não somos todo-poderosos. Diante do sofrimento somos chamados a tomar posição: ou a conformar o doente ou a combater o que produz o seu sofrimento. Ou achar que nada pode ser feito, - pois seria vontade divina, - ou permanecer próximo do doente e lutar com ele e com todas as próprias forças para restabelecer a ‘beleza original que Deus concedeu aos humanos. Jesus fez a segunda escolha. Jesus se aproximava das pessoas doentes e sofridas. Conhecia sua dor e sabia que ela não era desejo de Deus. Luta para eliminar toda causa de sofrimento. Jesus não tem medo de mergulhar nesse mundo misterioso e ambíguo da dor humana onde muitas pessoas ainda o interpretam como o resultado de seus pecados e de sua infidelidades a Deus. No evangelho de hoje vemos que Jesus não somente não foge como tem contato físico com a doente, a sogra de Pedro. Ajuda-a a se levantar pegando-a pela mão. Não teme um possível contagio, nem se importa com o que os demais irão falar. Sabe que a doença para o doente não é só fonte de sofrimento físico, mas também espiritual. Muitos se afastam da pessoa quando adoece, inclusive os próprios familiares. Estes, em muitos casos, temem por sua incolumidade física e abandonam a pessoa na hora de maior precisão. Tornam-se causa de exclusão afetiva e psicológica. Jesus sente-se no dever de dar uma ‘nova vida’ à pessoa que por causa do seu sofrimento vem fazendo a experiência de uma autêntica morte interior.
Por isso Jesus a ‘levanta’. É o mesmo verbo utilizado para descrever a ‘ressurreição’! Levantar-se da dor, levantar-se de um estado de abandono e de exclusão a que havia sido relegada. Tudo isso ocorre não para ostentar poder milagroso, mas para que o ‘curado-ressuscitado’ compreenda que ele também tem o dever de reproduzir a mesma coisa: servir e ajudar a 'levantar' outros doentes e sofredores. Marcos nos informa que a partir dessa atitude de Jesus em se aproximar e levantar os doentes, ‘muitos’ outros acorrem até ele conseguindo a cura. Da mesma forma os possuídos por ‘espíritos maus’ que conheciam o poder de libertar de Jesus. Isto poderia nos levar a pensar que Jesus era uma pessoa que apostava no seu poder de fazer milagres até como forma de resolver os problemas de ‘saúde pública’ como muitos 'aproveitadores religiosos'. Ao contrário: compreendemos que quem não está debilitado e doente deve compreender o tamanho e a gravidade dos problemas que afetam a ’muitos,’ e que não podem permanecer indiferentes, mas ao contrário, mergulhar neles e devolver a esperança e a vida. Marcos nos diz que nós hoje somos aqueles que como Jesus podemos dar vida e esperança a tantas pessoas que estão se conformando e desistindo de lutar e de viver!
Nenhum comentário:
Postar um comentário