Existem pessoas que depois de mortas são um permanente julgamento para quem fica. O sacrifício da própria vida em determinadas circunstâncias coloca as pessoas numa situação incômoda e constrangedora. Os que ficam percebem que pouco ou nada fizeram para preservar e defender quem foi morto. Consciente ou inconscientemente desejavam a sua eliminação porque quando vivo incomodava e denunciava, apontava e redarguia e, pior, não compactuava e não se corrompia. Tornava-se difícil pegá-lo em flagrante porque a sua coerência de vida não o permitia. Agora, sentem que depois de morto ele continua incomodando mais do que antes. Cria, de fato, nos que ficaram, o dilema da responsabilidade pessoal na sua morte. Faz surgir no seu íntimo complexos de culpa antes desconhecidos. Acabam se sentindo co-responsáveis pelo seu desaparecimento. Ocorre, porém, que com o tempo, os que ficaram compreendem que ‘aquela morte’ se constituiu num verdadeiro divisor de águas. Compreendem que aquele sacrifício, embora trágico e desumano, foi até ‘necessário’ para que os que ficaram se definissem em sua vida. Ou seja, se manifestassem de que lado eles estavam. Se do lado da verdade, da coerência de vida, da ousadia profética de quem foi sacrificado ou, ao contrário, do lado de quem o agrediu, matou e sacrificou.
Isto se dá, permanentemente, no nosso trágico e contraditório cotidiano. Só pensar nas centenas de lavradores do nosso Estado e País cujo sangue vem sendo derramado na defesa de direitos sagrados!Só pensar como certas conquistas na dimensão dos direitos se deram depois de assassinatos brutais de inúmeros pais de famílias! Com Jesus não foi diferente! Os seus apóstolos só depois de alguns anos perceberam que a morte do mestre não foi em vão. Conseguiram superar o complexo de culpa por tê-lo abandonado na cruz ao sentir que Jesus continuava a lhes oferecer perdão e misericórdia do mesmo jeito que o fazia quando estava vivo entre eles. Perceberam que a sua morte foi necessária para ‘desmascarar’ seus algozes e seus simpatizantes. Jesus, de fato, ao ser ‘levantado’ na cruz deu uma nova capacidade de discernimento aos seus discípulos e aos que ficaram. Ajudou-os a compreender que as pessoas que apostam na mentira, na corrupção, na violência e na manipulação sempre temem a pessoa que tem postura ética e que possui ‘luz’. Sentem-se desmoralizados porque ele não compactua, e nem vende sua alma como eles fazem! Os seguidores de Jesus têm aprendido a não ter medo dos que trabalham nas ‘trevas’, mas a agir à luz do dia, com coerência e fidelidade. Só quem sente vivo dentro de si o ‘crucificado levantado da terra’ terá a coragem de agir assim!
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