Quem nunca se indignou diante da falsidade e da hipocrisia que salta aos nossos olhos em qualquer lugar que estejamos? Quem nunca perdeu a cabeça quando alguém fura a fila e entra bem na nossa frente? Quem nunca se alterou diante de uma injustiça ou de uma humilhação gritante? É verdade, sempre haverá quem tenha a criticar covardemente um e outro, às escondidas, em voz baixa e com ar de suspeição. Sempre haverá quem usará suas influências particulares para ocupar o melhor lugar, comer o melhor pedaço, ser o primeiro a ser atendido por ter o chefe como amigo. Nada disso, contudo, se compara quando ocorre num espaço sagrado, onde, supostamente, esses comportamentos deveriam estar ausentes e serem condenados por todos. Usar de má fé, utilizar o nome santo de Deus para tentar justificar seus próprios interesses mesquinhos é algo detestável. É como se estivéssemos tentando manipular a própria identidade de Deus. Como se estivéssemos chamando Deus para abençoar nossos comportamentos desprezíveis. O evangelho de hoje retrata uma atitude de Jesus que só em parte se parece com os casos acima descritos. Ao expulsar os cambistas e comerciantes, Jesus não está simplesmente externando emotivamente a sua reprovação contra os aproveitadores do espaço sagrado. Jesus está decretando o fim do próprio templo e de suas funções.
O templo não é mais um meio privilegiado para se encontrar Deus. Ele se tornou desviante porque foi corrompido por seus frequentadores! Usa-se de forma criminosa o nome de Deus para ‘abençoar’ não só os negócios, mas também para justificar uma relação com um ‘Deus’ que deixou de ser para eles o Deus dos pobres de Israel! O templo e esse tipo de relação e culto que se dava com Deus deviam ser destruídos definitivamente. Já em outras oportunidades Jesus dizia que não era nem sobre ‘esse ou aquele monte, e nem em Jerusalém que se adora Deus, mas somente em espírito e verdade’ (Jo. 4,21-24) Chegou a hora e é agora: o novo templo e o novo culto se dá no corpo-pessoa de Jesus! Só na pessoa e no testemunho de Jesus podemos encontrar e adorar o Pai. Somente através de Jesus descobrimos o projeto de vida plena que o ‘verdadeiro Deus’ – aquele que não pode ser manipulado, - tem para com seus filhos e filhas. Não templos formais, frios, cansados, construídos por humanos interesseiros, mas templos-comunidades vivas de pessoas alegres, ativas forjadas pelo amor indestrutível de Deus. Deveríamos nos perguntar se estamos praticando de fato o ‘verdadeiro culto’, ou seja, exercendo a caridade, defendendo o direito do órfão e da viúva, fazendo justiça ao pobre, e tendo Jesus como centro inspirador. Ou se, por acaso, nos limitamos a repetir fórmulas, cantar louvores e hinos, fazendo da religião um negócio escuso, em templos elegantes, refrigerados e cheirando a incenso, mas com um coração que fica longe do coração dos sofredores!
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