A partir daquele dia em que Jesus nasceu, Deus deve ser buscado na vida dos homens e das mulheres, deve ser buscado no nascimento deles, no cotidiano deles, na morte deles. Nós, a fim de não sermos nós mesmos e a fim de não aceitarmos os outros, inventamos lugares para encontrar e reconhecer a Deus, inventamos ações para encontrar e reconhecer a Deus e não acolhemos o mistério da humanização de Deus, esse mistério que só o cristianismo desvela e proclama. É a humanidade, a humanidade de Jesus que nos permite conhecer quem é Deus, e é na humanidade de cada um de nós, na humanidade dos outros, dos homens e das mulheres que devemos ver a ação de Deus, o amor de Deus de que somos constituídos, como fiéis, imitadores. Quando esse menino nasce, ele narra o amor de Deus por nós e nos pede apenas uma coisa: crer no amor. Na sua primeira carta, o apóstolo João proclama: “Nós cremos no amor”, e essa é a verdadeira definição do ser cristão, uma definição, porém, que nos levanta uma pergunta à qual devemos responder na fé, sobretudo nesta noite: nós cremos no amor?
Cada um de nós deve se perguntar: eu creio no amor? Porque o cristianismo – e é preciso dizer isto com força sobretudo neste tempo –, antes de ser o ato de amar aos outros – e o repito –, antes de ser o ato de amar aos outros, pede como condição prévia e absoluta o ato de se crer no amor; porque, se alguém não crê no amor, pode até fazer muitas coisas generosas, grandes gestos e ações, mas, como revela Paulo, seriam apenas gestos de protagonismo, semelhantes a címbalos estridentes.
E atenção: o anjo convidou os pastores para irem a Belém, mas não os convidou para irem ver o Salvador, o libertador, o Deus conosco, e essa página de Lucas tem algo que muitas vezes nos escapa: o anjo os convidou a irem ver um sinal, um sinal, nada mais do que um sinal. Essa é uma fórmula inesperada no Evangelho de Lucas, porque, aliás, isso não faz parte da sua linguagem: mas esse bebê, esse menino envolto em faixas que está em uma manjedoura, uma cena humana, de todas as famílias que davam à luz naquele tempo, é um sinal, é apenas um sinal, apenas um sinal que remete a uma esperança de outro dia, um sinal que remete a uma libertação que será total mais tarde, quando vier definitivamente Aquele que foi designado como Salvador. Aqui também há uma inversão: não se crê primeiro em Deus e, consequentemente, sendo Deus amor, crê-se no amor. Não, primeiro cremos no amor e, na medida em que se crê realmente no amor, somos capazes de crer em Deus, o Deus que é narrado por aquele Jesus, por aquele seu Filho que se fez menino, que se fez simples, frágil, pobre, assim como o ser humano é no seu nascimento.
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