sábado, 11 de dezembro de 2021

III advento - Nem templo, nem rezas, nem preceitos, mas mudança urgente e radical das relações sociopolíticas e econômicas para salvar a nação! - Lc 3,10-18

Um cenário impressionante se impõe à nossa imaginação...Um deserto imenso feito de areia, pedregulhos, rochedos e sol intenso a fustigar uma multidão de pessoas provenientes das aldeias e cidadezinhas próximas e de Jerusalém. Uma multidão que se desloca dos centros urbanos para ouvir no deserto a ‘voz profética que grita' por mudança e castigo. Era mera curiosidade ou forte sentimento interior para iniciar uma nova etapa da própria vida? Um reconhecimento que a voz de João era inspirada e inspiradora ou era somente o medo das iras divinas para quem não conseguisse produzir ‘ frutos de justiça’? Seja o que for João não corre atrás do povo da cidade. Espera-o à beira-rio e tem exigências para todas as categorias e classes sociais. Já vemos aqui a grande diferença entre ele e o profeta Jesus: a profecia de João é estática e intransigente. Não parece deixar margem à salvação, pois ele desconfia da mudança de quem vive nas corruptas cidades; e a profecia de Jesus que se dá em permanentes andanças, visitas intensas de Norte a Sul, sempre à procura da ‘ovelha ferida e excluída’. Há, contudo, um ponto em comum e que foi crucial para a mudança de mentalidade do próprio cidadão e crente Jesus de Nazaré: não era num templo e nem na obediência às normas e aos preceitos litúrgicos tradicionais que poderia haver uma mudança radical da nação Israel, e sim, na transformação urgente e radical das relações sociopolíticas  e econômicas. 

Batizam-se somente aqueles que se comprometem a acabar com a desigualdade, com a corrupção e a violência, e a extorsão institucional. Dar comida e abrigo a quem não tem, não cobrar além do permitido, e não praticar abuso de poder tornam-se para João e para Jesus o cartão de visita de ambos! E sobre essas exigências os dois jamais abririam mão. Muda, todavia, a metodologia e a perspectiva. Jesus acredita firmemente que mesmo não havendo, agora, a mudança esperada, Deus concederia sempre uma nova e permanente chance (graça) por ainda acreditar na bondade do ser humano e, sobretudo, na ‘compaixão e na misericórdia do Pai’. Já, João, desconfia desse povo que promete e não cumpre, que louva com os lábios, mas o seu coração está longe de Deus, e não vê outra opção para Deus a não ser a de enviar o fogo abrasador! A autodestruição que a humanidade vem praticando hoje em dia parece dar razão, nesse momento, ao veterotestamentário João. Queremos continuar a seguir teimando na convicção de Jesus de Nazaré de que antes ou depois os filhos do Todomisericordioso saberão produzir frutos inéditos de justiça e de paz sem fim....


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