sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Uma Igreja com portas e janelas abertas. Um diálogo “sinodal” com Andrea Grillo

 O tema do Sínodo se centra na questão, urgente, de uma reflexão sobre o poder e suas dinâmicas.

Essa é uma das ideias mais claras que se manifestam na atualidade eclesial e no debate cultural para além da Igreja, naquela que podemos chamar de cultura comum. Em primeiro lugar, devemos reagir a uma espécie de instinto de autodefesa típico da Igreja. Acontece que quando a Igreja ouve falar de poder, costuma dizer “não me diz respeito, porque não atuo naquela seara; atuo naquela do serviço ...”. Falso: o exercício da verdadeira autoridade, da autoridade do evangelho, da autoridade do serviço, precisa exercer poder. Talvez para perdê-lo, mas tem que exercê-lo. Ora, no exercício do poder existe toda uma série de mediações que são comuns, não específicas apenas da Igreja. Consequentemente, uma reflexão sobre essas mediações é importante.

A primeira mediação em que o poder é exercido é a linguagem. Falamos uma linguagem velha, que era jovem quando foi formulada. Era moderna, avançada, ousada na época de São Tomás, do Concílio de Trento, dos concílios oitocentistas. Hoje, porém, repetimos fórmulas desgastadas. Em vez disso, acredito que não devemos ter medo. Sobre isso, o Papa Francisco é muito franco e pede para usar a imaginação, a inquietação e a incompletude. Não é por acaso que ele utiliza essas três palavras, palavras surpreendentes. E é paradoxal que as diga um Papa e não as digam os teólogos, os pastores e os leigos. Devemos dizer as coisas de sempre com palavras novas. É a grande intuição de João XXIII, que abre o Concílio Vaticano II afirmando que ele tem um caráter pastoral. Porque - afirmou então o Papa João -, uma coisa é a substância da antiga doutrina do depositum fidei, e outra coisa é a formulação de seu revestimento. Devemos formular o revestimento da substância da antiga tradição de uma forma nova, surpreendente, atraente e apaixonante. Portanto, o poder devemos exercê-lo usando a linguagem de uma nova maneira.

E depois?

Em segundo lugar, acredito que precisamos sair da autorreferencialidade, que normalmente é uma consequência de linguagens velhas. As linguagens ficam velhas quando já não falam mais do outro, apenas de si mesmos. Na Igreja, esta é desde sempre uma das tentações. Uma Igreja que já não consegue mais não apenas “sair”. Bergoglio usou essa imagem antes mesmo de se tornar Papa, em seu discurso ao colégio cardinalício. Não a Igreja em saída, mas Jesus em saída: devemos permitir que Cristo saia dos muros que construímos ao seu redor. .É uma belíssima imagem: um Cristo em saída precisa de uma Igreja com portas e janelas abertas, que permita que ele saia e as vidas humanas entrem.

O terceiro nível é estritamente institucional. Usamos o direito canônico - concebido em 1917 e parcialmente revisado em 1983 - como se fosse a Bíblia. Vamos parar de reduzir tudo a questões canônicas. O direito canônico é uma função essencial, mas não está nem no início nem no fim. Está no meio, no início e no fim existem outras coisas. Uma Igreja que sempre tem o direito canônico no início e no fim é uma Igreja que fala uma linguagem autorreferencial e que não se comunica com a realidade.


 

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