A igreja nos convida a iniciar simbolicamente um novo ano-caminho litúrgico. Longe de ser uma perpétua “repetição mecânica”, a intenção é de caráter educativo: viver e reviver com dobrada intensidade e de forma sempre nova-atualizada as “perpétuas-inéditas dimensões” da vida: a espera-esperança, o nascimento e a morte, o amor e a reconciliação, a injustiça-maldade, a fraternidade-comunidade, ódios-guerras, etc...Tudo o que está profundamente inserido no processo existencial é celebrado! Obviamente, dentro de uma lógica e a partir da ótica do Reino anunciado-testemunhado por Jesus de Nazaré. O ano litúrgico começa justamente com o advento. É sobre isso que vamos refletir!
O evangelho de hoje é como uma manchete, uma espécie de proclama, e dá o tom-sentido do advento a ser vivenciado: Vigiai! É esta vigilância que deve ser bem interpretada. Freqüentemente ela é compreendida e explicada como uma atitude a ser assumida perante uma suposta e próxima chegada de um salvador-juiz que com poder viria para separar os bons dos maus ou para trazer salvação plena para quem soube “vigiar” e se manter fiel nessa espera infindável e imprevisível. O sentido da vigilância, contudo, é outro. É um enérgico chamado de Jesus a seus seguidores a assumirem o papel de guardiães e vigias da integridade física e moral de Israel, ou seja, da humanidade e ...da criação, perante as inúmeras e inevitáveis agressões-invasões. Se pensarmos brevemente no papel de um vigilante ou de um guarda nas pequenas cidades-fortaleza ou prédios da época de Jesus podemos compreender melhor o alcance do “vigiai” de Jesus.
O papel de um vigilante/guardião é ocupar um lugar estratégico de destaque para ter uma visão ampla e privilegiada do entorno; ter ouvidos afinados para saber distinguir ruídos estranhos; saber percorrer sistematicamente o espaço que ocupa para verificar se tudo está bem trancado, que não haja pontos vulneráveis que coloquem em risco a segurança das pessoas e do prédio; saber identificar as tentativas de invasão e o poder de eventuais assaltantes e arrombadores que se aproximam. Tudo isso em vista de ter tempo hábil para alertar as pessoas a fim de que tenham condições de organizar a resistência-defesa ou inibir-debelar com ações preventivas as tentativas de agressão. O vigilante, ao mesmo tempo, sabe identificar os instrumentos-mecanismos internos e pessoas aptas a enfrentar a ameaça externa. Se o vigilante, ao contrário, relaxar a guarda, dormir, permanecer avoado, desligado, ou estiver fora da sua visão privilegiada colocará em risco a segurança-vida de todas pessoas e do patrimônio!
“Vigiai” não é outra coisa a não ser o convite de entrarmos definitivamente em um estado de alerta permanente para prevenir, combater, inibir, evitar todas as inúmeras ameaças e agressões à vida, ao direito, à dignidade, à criação. Ao mesmo tempo, sabermos identificar onde estão aqueles sinais-presença de liberdade, de vida plena, de direito conquistado e respeitado, de salvação, que já existem dentre nós. O perigo é achar que só um milagre de um todo-poderoso salvador externo a nós combata as agressões à vida por nós e sem nós! Nós temos que ser os permanentes vigilantes-salvadores de uma humanidade sempre mais agredida e de uma criação sempre mais ameaçada. Jesus assumiu, na sua época, a sua responsabilidade perante Deus e a sociedade para combater agressões e agressores. Cabe a nós dar continuidade a essa missão. O Jesus cidadão histórico se foi. Ele não vai voltar e nem vai chegar, pois o seu legado sempre esteve entre nós.
Vigilância para a vida e para toda vida!
Vigilância para a vida e para toda vida!
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