‘Bem-aventuados os que choram porque serão consolados’ (Mt. 5,4).
Pela linguagem bíblica chorar não é só sinônimo de verter lágrimas, mas expressa desespero e profunda aflição. Chora quem está fazendo a experiência da depressão, a doença da alma. Chora aquela pessoa que não sabe mais a quem apelar, e em quem se agarrar. Chorou Aquele que ‘entre gritos e lágrimas’ suplicou o ‘Pai das misericórdias e de toda consolação’ (2 Cor.1,3) para que afastasse o cálice de angústia, mas só encontrou o Seu silêncio desconcertante e assustador. Jesus declara felizes os ‘desesperados e aflitos’ porque, agora, com Ele, foi inaugurado o Reinado da solidariedade, da compaixão, da consolação. Com Jesus aprendemos a superar a indiferença e a insensibilidade para com os sofredores. Com Ele torna-se real a promessa que ‘seremos consolados como uma criança é consolada pela sua própria mãe (Is 66,13). De fato, quando encontramos um ser humano que percebe a nossa dor, e sem invadir a nossa privacidade, ouve as nossas angustias, fazemos a experiência existencial de nos sentir aliviados e confortados. Nessas horas se quebra o suposto silêncio de Deus. No ‘abraço maternal’ de Deus, envolvente e carregado de conforto, acontece algo revelador. No desespero aprendemos a esperar, e a compreender o drama do desesperado. Na dor aprendemos a sentir conforto interior, e a consolar quem se sente tragado pelas tragédias da vida. E o que parecia, inicialmente, uma situação de morte interior, sem retorno, se transforma, paradoxalmente, numa escola de paz e de conforto para si e para quantos passam pela nossa mesma experiência.
Esta é a pedagogia de Deus. ‘Ele nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!”(2 Cor 1, 3-4). Quem melhor que uma mãe, por exemplo, que tem um filho dependente das drogas, para entender e ajudar outras mães na sua mesma situação? E, juntas, com coragem, lutar pela recuperação de seus filhos? Quem melhor que uma filha que assiste com amor, dia e noite, uma mãe idosa que vive acamada e totalmente dependente, para confortar e infundir novo alento a outras pessoas que fazem a sua mesma experiência? Consolar não consiste, simplesmente, em dirigir algumas palavras formais de ‘conformação’ a quantos se encontram na aflição. Para o misericordioso é, em primeiro lugar, estar ao lado dos que choram, mas fazendo ‘causa comum’ com eles. É manifestar-lhes com gestos concretos que acabou definitivamente a sua solidão na dor. E que não estará mais sozinho na hora de carregar a cruz. (Este blogueiro escreve todo mês no Jornal do Maranhão, da Arquidiocese de São Luis, na Coluna 'Obras de misericórdia')
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