quarta-feira, 27 de março de 2019

PAI NOSSO - .....VENHA A NÓS A VOSSA REALEZA...


Talvez, nesse momento, esteja decepcionado consigo mesmo. Ou, com boas razões, com a degeneração da situação social e política do nosso País. Talvez, na sua compreensível descrença, ainda sinta indignação com o modo com que é tratado por uma ‘coorte de reizinhos e déspotas’ que convivem com você na sua rua, na sua igreja, ou numa repartição pública. E até na sua própria casa. Não desista! Continue a cultivar dentro de você a esperança de ver realizados os seus sonhos mais elementares e legítimos. Aqueles que o fazem sentir gente de valor. O sonho singelo de ter uma casa e um emprego decentes. De envelhecer bem, e de ter direito a uma aposentadoria suficiente para curtir lugares, amigos, e compadres. De ver filhos formados. E de poder curtir seus netos amados. O sonho de ser assistido com respeito e afeto num hospital público. O sonho, enfim, de decidir como cuidar do nosso ‘jardim comum’, a nossa cidade, o nosso bairro. No ‘projeto de vida’ do Pai Nosso, Jesus, através de sua prática de serviço e de dedicação, motiva os discípulos a buscar e a construir, aqui e agora, o mundo do jeito que Deus-Pai sonha para todos os seus filhos. Ao tentar realizar os sonhos de plenitude de vida de cada pessoa, os seguidores de Jesus estarão incorporando a ‘REALEZA’ do Pai. Ou seja, ‘o modo de sentir e de administrar’ de Deus. Um modo de governar radicalmente oposto ao exercido por presidentes e governadores. Eles todos são movidos pela ânsia patológica de interromper e de destruir os sonhos e as esperanças dos cidadãos que eles tratam como ‘súditos’. 
Deixemos clara uma coisa: Jesus nunca quis implantar um ‘REINO DE DEUS’! Uma espécie de território soberano administrado por Deus. Como se o PAI fosse mais um rei, à moda humana! Jesus, ao contrário, nos pede que procuremos acolher e adotar ‘O MODO DE CUIDAR’ do Pai. Este é o seu supremo dom: o seu jeito de sentir, de compreender e de administrar a sua ‘família’, e não um ‘reinado’! Jesus sabia que Deus, - por ser Pai, e não rei, - jamais adotaria o modo de ‘fazer políticas públicas’ dos ‘reinos deste mundo’ (Jo.18,36), pois ‘eles tiranizam e dominam as nações’ (Mc.10,42) Os seus discípulos, ao contrário, deviam aprender, como Jesus, a se colocarem no último lugar, e a servir, de graça! Quando Jesus convida os seus discípulos a invocarem que ‘venha a nós a Vossa Realeza’ está convidando todo discípulo a sentir em suas ‘entranhas(útero)’ as mesmas dores que um ‘pai materno’ experimenta ao ver seus filhos sendo violentados. Ou, a mesma angústia dilacerante de um ‘Pastor bom e compassivo’ ao ver ‘suas ovelhas’ sendo atacadas e desgarradas por ‘falsos pastores’, ladrões e mercenários que se aliam aos lobos de turno! (Jo. 10,10). 

As mudanças, na vida real, ocorrem de forma lenta. Com muitas contradições, embates e confrontações de todo tipo. Por isso, Jesus apela para a ousadia, e não para a resignação. A Realeza de Deus é, sim, um dom, mas é também conquista. Ela pertence àqueles inconformados que sabem que ‘o tempo se esgotou’ (Mc.1,14) e forçam a barra. A Realeza de Deus é dos ‘violentos’(Mt.11,12). Daqueles discípulos que quebram os paradigmas de governar dos usurpadores, e os dogmas dos teólogos do Palácio que ‘usam, em vão, o Santo nome de Deus’ para justificar submissão e dependência! Discípulos ‘que buscam, primeiramente, a Realeza do Pai e a sua justiça’ (Mt.6,33), porque sabem que o resto vai vir como consequência lógica disso. Que não se entregam aos ídolos do poder e da prosperidade, almejando curas e enriquecimentos fáceis. Que não desanimam se seus sonhos demoram a acontecer. Afinal, a Realeza de Deus Pai é como uma semente que é pequena e quase invisível, no início. Mas se desenvolve, paulatinamente, como se tivesse uma energia interna própria. E, torna-se uma árvore imensa em cujos galhos ‘abrigam-se todos os passarinhos do céu’ (Mt.13,31). 
Hoje, o nosso povo se sente como um ‘passarinho’ desamparado e indesejado nessa sociedade. Nessa ‘árvore nanica’ que resiste em se tornar árvore hospitaleira. Família aconchegante. Nação protetora. Igreja servidora. Em seus ramos inóspitos escondem-se ‘gaviões reais’ que perseguem e estraçalham os passarinhos feridos e frágeis, e os seus defensores. Eles não têm ‘vestimenta adequada-dignidade’ para sentar ‘ao banquete da Realeza de Deus’ preparado pelo Pai para ‘os pobres em espírito’. Para aqueles discípulos que assumem o compromisso evangélico de servir e proteger as vítimas da prepotência e da brutalidade desumana. Não duvidem: juntos vão administrar, desde já, o mundo em que os sonhos dos pequeninos já começaram a se realizar. São essas novas sementinhas que, através de microscópicos gestos de compaixão e de enfrentamento, destroem o falso poder do ‘anti-reino’. E o fazem, não utilizando a força bruta e a mentira, mas ‘colocando-se à mesa para servir’ (Lc.12,37), como é próprio de um Filho, seguidor de um Pai amado. 

(Este blogueiro escreve todo mês no O Jornal do Maranhão, da Arquidiocese de São Luis)

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