Causam perplexidade os movimentos nem tão sorrateiros da FUNAI nacional e regional do Maranhão no que diz respeito a uma possível política desenvolvimentista entre o povo Guajajara, no Maranhão. É notório que a direção atual da FUNAI segue o pensamento-tendência do ‘homem forte do Planalto’. Algo que vai na contramão das expectativas da grande maioria do povo Guajajara.
Há difusos indícios de que funcionários da Funai, sob o manto de um discurso progressista, avançado, e, supostamente, em consonância com os tempos modernos, estimulam alguns setores indígenas a apoiarem e a adotarem a lógica do agronegócio, do arrendamento de terras indígenas, da agricultura em grande escala. Mesmo que isso signifique desmatamento descontrolado e fonte inesgotável de conflitos e desgastes internos. Não há novidade nisso. Afinal, desde a posse de Bolsonaro, alguns indígenas do Estado se iludiram com a possibilidade da introdução imediata do agronegócio nas terras indígenas. Inclusive vendendo a versão de que índio também pode ser empresário e consumidor! Contudo, ao longo desses três anos não se tem notícias de iniciativas da FUNAI nesse sentido. As comitivas indígenas da região que invocavam apoio e intervenção juntos aos órgãos federais para começar a implantar o agronegócio em suas terras colheram só promessas. Isso provocou em alguns indígenas um forte sentimento de decepção. Causa estranheza que somente agora, no último ano de mandato do atual mandatário, haja essa tentativa em realimentar entre os Guajajara o sonho-ilusão de que o agronegócio em suas terras viria a ser a solução definitiva dos problemas e dos impasses seculares que castigam esse povo e as sociedades indígenas do País como um todo! Evidentemente, não há imposição por parte do órgão indigenista. Simplesmente, utiliza a tática de fazer corpo mole na hora de financiar, por exemplo, projetos de roças familiares semi-mecanizadas. Ou alegando falta de orçamento para fornecimento de sementes e outros insumos básicos. Dessa forma, a FUNAI deixa transparecer que não seria por má vontade, mas por falta de recursos que não são devidamente aprovados e alocados para as suas atividades agrícolas. Para a FUNAI teria chegado a hora de os próprios indígenas se virarem com seus próprios recursos e meios. E se isso é impossível, - como de fato é, - a solução é fazer uma grande parceria com o capital agrário em que os indígenas conseguiriam renda suficiente para se tornarem definitivamente autossuficientes.
O órgão indigenista e o Ministério da Agricultura levam como grande exemplo a ser imitado e reproduzido o dos índios Pareci, do Mato Grosso. Uma experiência local de duvidosos resultados em que o povo Pareci produz soja em suas terras segundo o modelo do agronegócio. Não se explicita como a renda é partilhada entre eles, como deverá ser paga uma multa impagável de 120 milhões de Reais que os produtores Pareci acumularam e, quais são as consequências em termos de mudanças socioculturais provocadas por essa atividade. Há nesse momento entre o povo Guajajara da região da terra indígena Arariboia um clima de perplexidade, desconfiança, e também de ‘disputa ideológica’ interna. Há uma visão majoritária entre os indígenas da região de que não faz sentido que o governo estimule ingentes investimentos e energias visando o grande negócio agrícola nas terras dos Guajajara, ignorando o momento atual de crise, de perspectiva de encarecimento dos alimentos, de abandono e de desleixo institucional. Esse grupo propõe que o órgão oficial indigenista se faça promotor de produção de alimentos de acordo com as possibilidades e disponibilidades dos indígenas que não são poucas. Acredita-se que com poucos recursos pode-se produzir o que nunca se produziu ao longo desses anos sem desmatar e sem queimar. Esse grupo de indígenas não exclui, de antemão que se continue a debater, simultaneamente, a possibilidade e a conveniência de uma experiência in loco, segundo o modelo do agronegócio, de acordo com o pensamento e as condições locais dos Guajajara. O que é condenável e injusto é apresentar como única saída para os problemas estruturais que afligem os Guajajara a ilusão do agronegócio em suas terras, principalmente nesse momento político e econômico. É enganação. É chantagem criminosa!
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