Mediante a parábola hodierna, Jesus procura justificar a sua relação para com os pobres, os pecadores e os religiosamente impuros, representados simbolicamente pelo filho pródigo. Isso ocorre num contexto polêmico, ou seja, perante as crescentes críticas e hostilidade dos fariseus encarnadas na figura do ‘irmão mais velho’. Os fariseus não aceitavam que Jesus, mestre e doutor das sagradas escrituras, acolhesse e se misturasse com pessoas social e religiosamente indignas.
O que efetivamente soou paradoxal - e que deve ter suscitado uma enorme indignação nos ouvintes fariseus - foi o fato que Jesus, com aquela prática tolerante para com os pobres e ‘impuros’, estava dizendo em alto e bom som que o próprio Deus faria o mesmo que Ele. Jesus assume o papel de ‘representar’ aquele ‘Pai’ que acolhe, perdoa, compreende o filho extraviado, sem julgá-lo ou condená-lo. Isso era inconcebível para um fariseu ortodoxo! A raiva, a indignação e a inveja que os fariseus sentiam eram direcionadas, no fundo, contra o atrevimento escandaloso de Jesus em manifestar com atitudes concretas não um Deus vingador e punitivo (justo, para eles!) e sim, um Deus misericordioso e cheio de compaixão e ternura. Dessa forma, Jesus elimina a componente do medo e do terror na relação com Deus. Anula a presença da vingança e da punição no coração/essência de Deus. Isto provocava um esvaziamento e um não sentido das práticas ritualísticas, purificatórias, penitenciais, sacrificais da religiosidade judaica.
Que não tenhamos medo de nos deixar abraçar por esse Pai! Que não sintamos indignação quando Ele abraça também aqueles irmãos e irmãs que nós condenamos! Que não tenhamos receio em sentar junto com o nosso 'irmão mais novo' ao mesmo banquete, e festejar com alegria o seu retorno à casa do mesmo Pai, mesmo quando ele volta porque sentiu saudade da comida que não tinha mais, e não do carinho do pai.....!
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