Para que o sol da justiça brilhe é necessário enfrentar muitos conflitos. A construção da justiça não é algo natural, harmonioso. É imprescindível, primeiramente, identificar, e destruir as causas da injustiça, o que acarreta enfrentamentos, dilacerações, divisões, resistências. Jesus sempre viu no aparato do templo, com seus sacerdotes, sacrifícios, proibições e preceitos uma das principais causas da injustiça social que oprimia, principalmente, o povo simples e pobre de Israel. A própria arquitetura do templo intimidava pela sua grandeza e magnitude, mas para Jesus não passava de uma transitória ‘obra humana’. Como foi construído, assim ele pode ser destruído, principalmente quando não cumpre mais o seu objetivo de ser espaço privilegiado de encontro com o Deus que protege e abriga seus filhos. Quando o templo/religião se torna símbolo de manipulação de consciências e exploração social e econômica, quando nome santo de Deus é utilizado, sacrilegamente, para justificar roubo e dependência moral 'ele deve ser extinto'!
No evangelho de hoje Jesus convida os seus a contemplar a efêmera beleza de uma religião que seduz os olhos, mas não o coração. De forma, ousada, prevê o fracasso de um sistema sociorreligioso e moral quando perde de vista o cuidado para com os filhos e filhas de Deus mais fragilizados. A confrontação entre religião, classe sacerdotal, aparato legal e prática da fé/caridade/testemunho dar-se-á mediante conflitos e enfrentamentos até violentos que produzirão lacerações e divisões de todo tipo, mas terá o único objetivo de fazer surgir um novo modo de viver a fé, de ser povo/igreja de Deus. Nada de se apavorar ou desanimar por causa disso. Não será o fim, é só o começo de uma nova e inédita etapa da vida cristã. No nosso País vivemos, inegavelmente, algo semelhante. Grupos supostamente cristãos acusando outros de traição e desvio e vice-versa. Grupos tão profundamente identificados com o aparato religioso manipulador, conservador e fundamentalista erguem-se, hoje, como paladinos enfurecidos não da fé, mas da defesa do ‘templo/aparato que explora, manipula e coopta’. Há chegado a hora do grande testemunho, da profecia e da fidelidade à prática misericordiosa de Jesus que, no momento, pode até não suscitar entusiasmos, mas que inaugura um novo jeito de ser igreja. A igreja que vive e sobrevive sem templos, sem sacerdotes, sem padrinhos, sem alianças com os que sentam nos tronos dos belos e poderosos palácios. A igreja que ama, e não a que se arma!
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