quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Os votos dos 'sem religião' deram a vitória a Lula! Por José Eustáquio Diniz Alves

......Em síntese, a proporção de católicos, evangélicos, outras religiões e sem religião influenciam o voto brasileiro. Mas entre o eleitorado cristão – que são os dois maiores grupos religiosos do Brasil, com cerca de 82% do total do eleitorado – houve uma vantagem de Bolsonaro. Já entre o segmento sem religião (que representa 12% do eleitorado) Lula teve uma vantagem de 5,9 milhões de votos, o que garantiu a vantagem final de 2,1 milhões de votos que deram a vitória ao candidato do Partido dos Trabalhadores. Portanto, católicos e sem religião foram fundamentais para superar o bolsonarismo da maioria do segmento evangélico, mas o fiel da balança foi indubitavelmente o segmento sem religião, que compensou as diferenças no voto cristão......

.......Não tenho segurança alguma em subscrever essa ideia. Ao contrário: minha impressão é que o bolsonarismo tenderá a se tornar uma força com reduzida capacidade de articulação nos próximos meses e sem condições de se coordenar nacionalmente. Os fatos apontam que o fascismo brasileiro só se organiza a partir do Estado. O bolsonarismo possivelmente não consegue se coordenar fora dele. Isso se deve principalmente ao fato de o bolsonarismo não se apresentar como um conjunto de ideias com começo, meio e fim. O bolsonarismo não tem programa claro, a não ser um nacionalismo moralista de fachada, o enunciado de poucos dogmas religiosos e de professar um ultraliberalismo sem freios. O bolsonarismo não é um projeto, mas uma torrente de sensos comuns e uma pregação ininterrupta da violência como dinâmica de intervenção social. É pobre e primário como ideário político.

........Mas o fascismo seguirá forte em alguns bolsões do Estado, em especial no aparato de segurança (Forças Armadas, Abin, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais). Aqui o problema é sério e só há uma solução. Ela foi dada por Gustavo Petro, menos de um mês após assumir a presidência, em 19 de agosto último. De uma só penada, o novo presidente colombiano anunciou a passagem compulsória para a reserva de nada menos que 52 generais, abrindo 24 postos de comando na Polícia Nacional, 16 no Exército, 6 na Marinha e mais 6 na Força Aérea. Sem sutileza, o presidente avançou sobre instituições tidas como intocáveis na América Latina, ao mesmo tempo em que buscou tirar da frente potenciais ameaças ao futuro de sua administração.

Mais do que especular se o bolsonarismo seguirá sem Bolsonaro, será necessário que o novo governo Lula tome a iniciativa de desativar as bombas-relógio colocadas à sua frente pela ameaça fascista, retirando-a de qualquer alavanca de comando do Estado. O mais provável é que em poucos meses tais correntes percam boa parte da relevância que exibem hoje e o bolsonarismo seja uma tendência marginal na sociedade.

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