1ª estação: Jesus é condenado à morte - Quantas pessoas são condenadas à morte sem o assim chamado 'processo legal'; condenados por nós mesmos, juízes parciais e suspeitos, movidos pela nossa arrogância e sede de vingança. Incapazes de oferecermos uma nova chance a quem errou. Diferentemente daquilo que nos diz Jesus de deixar crescer juntos os que consideramos bons e ruins, o trigo e a cizânia, nós eliminamos, frequente e sumariamente, os que achamos serem os únicos responsáveis dos problemas sociais e humanos. Hoje, de forma irresponsável e criminosa a própria humanidade chega ao absurdo de condenar à morte a própria natureza, a mãe terra a irmã água e envenenar o ar que respiramos. Condenamos os outros, mas não assumimos as nossas responsabilidades.
2ª estação: Jesus carrega a Cruz às costas - Bem que poderíamos afirmar que Jesus foi obrigado a carregar à força uma cruz que ele não escolheu. Ele que durante a sua vida carregou espontaneamente e com amor a cruz da dor de tantos doentes, pobres, pecadores, viúvas e órfãos, agora, é obrigado a carregar a cruz da prepotência e da humilhação, da mesma forma que milhões de humanos são obrigados a carregá-la por causa de outros 'desumanos' crucificadores. Há cruzes que só nós podemos carregar e que não podemos evitar. Que o Deus do amor nos ajude a carregar a nossa cruz com coragem e fé!
3ª estação: Jesus cai pela primeira vez - Cair faz parte da caminhada, de quem sabe ou de quem pretende caminhar. Caem os que saem de suas casas, de suas sacristias e igrejas, e de seus mesquinhos egoísmos. Caem os que não se escondem, não se acomodam, não se trancam em suas fortalezas, mas se arriscam e ousam! O problema não é cair, o problema é saber levantar toda vez que caímos. Nem todos têm a coragem e a força de levantar e continuar a sair, a andar, a correr, a anunciar, a denunciar, e a construir com os outros.
4ª estação: Encontro de Jesus com sua mãe - Jesus conviveu e amou intensamente sua mãe, ao mesmo tempo que considerava mãe e pai todos aqueles que ouvem a palavra e a põem em prática. Quantos momentos de convivência carregados do afeto e atenção com Maria, mas agora, é o seu último encontro com sua mãe, marcado pela sua morte próxima. Deixa de ser um encontro e se torna uma despedida. Uma oportunidade para confirmar um amor que não desaparecerá com a ausência de Jesus. Maria se torna o símbolo daquela igreja que quer se encontrar com todos os crucificados e condenados pela indiferença e desamor, confortando, motivando e servindo, mas, principalmente, assumindo-os como filhos amados;
5ª estação: Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz – Quantas pessoas hoje agem como Simão Cireneu! Sem fazer alarde, de forma escondida e humilde tornam a cruz de muitos irmãos e irmãs mais leve. Muitos testemunhos de assistência, de dedicação e de serviço gratuito nos mostram que ainda há muita humanidade e empatia com as vítimas das cruzes impostas pela doença, pelo desamparo, pelo abandono, pela exclusão social e pelos carrascos de hoje. Nós ao sabermos que há alguém ao nosso lado que nos ajuda a carregar a cruz de cada dia superamos toda tentação de desânimo. Hoje, contudo, somos convidados a ser mais ousados que Simão Cireneu ao lutarmos para eliminar todas as cruzes construídas e impostas pela maldade humana, e não simplesmente a carregar passivamente a cruz alheia.
6ª estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus – Quando nos aproximamos de pessoas consumidas e desfiguradas pela doença, pela violência, pela destruição ambiental com o intuito de enxugar suas lágrimas e o seu sangue, uma parte daquela dor entra na nossa alma, mas certamente também a alma daquelas vítimas começa a ter nova vida. As pessoas começam a perceber que não estão mais sozinhas e que, apesar de suas deformações e de seus sofrimentos, elas continuam a ser ‘verdadeiros ícones’ (Verônicas) do Criador. A própria criação hoje foi deformada e o seu rosto foi riscado e ferido pelas cicatrizes da ganância e da acumulação, da monocultura e dos agrotóxicos. Precisamos restaurar urgentemente o verdadeiro rosto da natureza e da humanidade tal como o ‘crucificado’ de Nazaré queria.
7ª estação: Jesus cai pela segunda vez – Quantas pessoas caídas encontramos nos nosso caminho! Algumas porque esgotadas pelo cansaço, pela falta de esperança e de perspectivas. Outras, porque foram derrubadas por irmãos próximos em suas disputas e rivalidades. Hoje vivemos derrubando pessoas amigas e próximas acreditando que são nossos rivais e competidores. Na nossa neurose vemos inimigos em todo lado e achamos que temos que abatê-los e abandoná-los à margem da nossa estrada, pois se assim não for, eles poderão nos derrubar. Precisamos assumir um novo olhar para com os nossos irmãos. Que não nos cansemos de estender a nossa mão para levantar os caídos da nossa comunidade.
8ª estação: Jesus consola as filhas de Jerusalém – Jesus sabia que são as mulheres que, em geral, nunca largam as pessoas que elas amam, principalmente quando estão passando por momentos de angústia e de dor. Jesus tinha certeza que aquelas filhas de Jerusalém nunca teriam se conformado com a sua morte próxima, e o teriam mantido vivo de um jeito especial. Jesus, o necessitado de consolo, continua a ser o consolador até o fim. Consolar não é conformar, não é aceitação passiva da própria desgraça. É, ao contrário, a certeza antecipada de que as provas da vida e a própria morte não vão fazer desistir aqueles que amam intensamente, mesmo na ausência do amado. Sejamos consoladores incansáveis de quem parece estar cansado de amar e de lutar!
9ª estação: Jesus cai pela terceira vez – Quando fazemos a experiência traumática da decepção, da traição, do abandono humano, da solidão, da perda de pessoas amadas imaginamos que daquela provação jamais iremos levantar. Pensamos que não haverá mais jeito de voltar a ser como antes e, frequentemente, nos entregamos ao desespero e à desmotivação. Jesus, mesmo cansado e abatido, mesmo após várias quedas continua a levantar, a endurecer o rosto como o servo sofredor, e a encontrar energia e fé para levantar e subir o Gólgota da vergonha. Só a morte física para pôr fim às nossas quedas, só a falta de coragem e fé para nos entregar, e não querer mais levantar! Que não tenhamos medo de estender a mão àqueles que querem nos ajudar a levantar todas as vezes que caímos!
10ª estação: Jesus é despojado de suas vestes – Na época de Jesus, despir uma pessoa de suas vestes era come despi-la de sua dignidade e personalidade. Uma forma atroz de humilhar o condenado, um gesto desumano de dominação sobre o seu corpo e a sua alma. Jesus o missionário que restaurava corpos e espíritos feridos, que pregava a necessidade de vestir os nus se torna vítima de uma espoliação que não consegue, porém, arrancar as profundezas de sua alma. Jesus, o rosto verdadeiro do Pai, criatura moldada pelo amor divino, não teme essa última usurpação, pois das vestes do coração revestido de compaixão jamais poderia ser espoliado! Não temamos quem hoje rouba a nossa roupa, mas sim aqueles que têm o poder de sequestrar a nossa alma, a nossa dignidade e a nossa fé!
11ª estação: Jesus é pregado na Cruz – Pensar em pregos que penetram nas mãos de alguém não é pensar somente na sua dor física, mas também na sua dor moral e espiritual. Afinal, enfiando os pregos no corpo de alguém é para que ele seja imobilizado e colocado em condições de não reagir. É dizer ao condenado que ele é um impotente, um incapaz e que mereceu estar pregado definitivamente àquela situação, e que não adianta reagir ou se revoltar. Quantas vezes nós cravamos os pregos da calúnia, da mentira, da irresponsabilidade ambiental, da ignorância e da brutalidade nos corpos e nas almas das pessoas e da natureza. Chegou a hora de retirarmos os numerosos pregos que nós mesmos pregamos e que mantêm presos â cruz da dor, da escravidão, da fome, da guerra e da destruição milhões de pessoas!
12ª estação: Jesus morre na Cruz – Jesus não morreu, Jesus foi morto. Jesus não morreu para expiar os nossos pecados, mas porque foi vítima dos pecados da intolerância, da violência, da brutalidade. Jesus venceu a morte não porque se livrou da putrefação do seu organismo, mas porque olhou firme para a morte e para os seus assassinos, não com os olhos do derrotado e do desesperado, mas com os olhos de um vencedor que, - mesmo aparentemente derrotado, - olha com compaixão e misericórdia quem o estava matando. Ver um condenado que não morre revoltado, amaldiçoando e blasfemando é uma derrota para os seus crucificadores. Jesus não morre desesperado porque sabe que debaixo da cruz existem mulheres fieis que continuarão a sua missão. Que não tenhamos medo de encarar a nossa morte e de recolher o último hálito de vida de muitos agonizantes e daqueles mortos ambulantes que vagam nas nossas praças e ruas à procura de vida nova!
13ª estação: Jesus é descido da Cruz – Muitas vezes no nosso desânimo achamos que a vida nos crucificou uma vez por todas, para sempre, e que jamais conseguiremos dar a volta por cima. Acreditamos que fomos abandonados na nossa desgraça e na nossa falta de felicidade. É preciso acreditar que o Deus da compaixão sempre vai inspirar e dar coragem a alguém para nos ajudar a descer da cruz em que nós achamos que fomos pregados para sempre. Hoje somos convidados a mergulhar no mundo dos crucificados e a tirar das cruzes não cadáveres sem vida, mas irmãos e irmãs que, embora agonizantes, são ainda vivos, e que necessitam voltar a esperar, a crer e a viver com intensidade.
14ª estação: Jesus é sepultado – Muitas pessoas acham que ao enterrar uma pessoa querida e amada estaríamos enterrando também o que ela significou para nós. O patrimônio humano e espiritual de quem amou e se foi fisicamente, jamais vai ser depositado e esquecido numa cova ou num sepulcro frio. Nós devolvemos à mãe terra só o corpo biológico para que volte a fertilizar o chão da fartura e da abundância, mas jamais podemos pensar que uma sepultura é o ponto final de um itinerário marcado pelo amor que serve e que protege, que assiste e que cuida. Hoje somos convidados a retirar as pedras pesadas que mantêm milhões de pessoas como se estivessem enterrados em sepulcros sem luz e sem vida. Retiremos as pedras do ódio e da intransigência e libertemos os escravos e as vítimas do desespero e da escuridão.
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Via sacra comentada
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