sábado, 10 de março de 2012

Para que nenhum corpo-templo seja profanado! (Jo 2,13-25)


Quem de nós nunca fez a experiência de se revoltar ao ver alguém sendo espancado ou torturado? Quem nunca sentiu as entranhas se revirarem ao ver um doente desfigurado por alguma doença e ser ignorado ou, pior, ser maltratado? Mesmo assim, muitas vezes, parece produzir mais irritação e revolta interior o fato de ver um templo, uma igreja ou um sacrário serem profanados do que assistir a um ‘corpo’ ser abusado e violado. Muitas vezes a nossa educação religiosa nos leva a considerar sagrado um espaço físico-material reservado para determinadas celebrações e ritos. Onde os profissionais encarregados das liturgias e dos cultos atuam. Achamos que somente aí, no sagrado, - e não no profano, - Deus estaria se manifestando e revelando. Dessa forma, a profanação de uma igreja suscita mais revolta do que um ser humano ser violado e seviciado.

O evangelho hodierno relata um dos gestos mais polêmicos, ousados e proféticos realizados por Jesus. Um gesto evidentemente simbólico. Que aponta para algo diferente daquilo que as aparências poderiam induzir. Jesus, de fato, tinha plena consciência que aquele gesto aparentemente ‘militar’ não teria força suficiente para livrar o templo de um exército de sacerdotes, comerciantes e trocadores fraudadores e meliantes. Queria, isso sim, deixar um sinal visível e compreensível para todos. Indicar onde Deus realmente reside, e se deixa encontrar e adorar. Deus não se encontra num espaço supostamente sagrado ou definido tal por aqueles que o usam para enriquecer e para dominar. Deus não se encontra numa construção que mesmo possante pode ser destruída e arrasada. Deus não se encontra num conjunto de ritos religiosos formais criados por humanos. Em abluções purificadoras ou em pagamentos de promessas. Na queimação de incensos ou em sacrifícios expiatórios. Deus não se encontra ‘nem sobre o monte Garizim, nem em Jerusalém, nem em qualquer outro lugar...!’ Deus só pode ser adorado ‘em espírito e verdade’. Deus só pode ser encontrado nas atitudes/opções mais sinceras, profundas, coerentes, íntimas do ser de cada pessoa em favor da ‘vida plena’. O ‘corpo’ dos filhos e filhas, gerados pelo Pai é, de fato, o Seu templo. A Sua verdadeira residência. A Sua ‘tenda’ em que Ele habita permanentemente. Profanar, descuidar, humilhar, usar e abusar do corpo-ser dos filhos e filhas de Deus significa agredir e tentar destruir a própria habitação de Deus. São todas as ameaças à integridade física e moral dos filhos e filhas de Deus que deveriam nos fazer consumir por dentro. Somente ao ver doentes desassistidos e abandonados, seres humanos trucidados e espancados no corpo e na alma que deveríamos arder de indignação! Somente o verdadeiro zelo por ‘esses templos’ profanados pela brutalidade e a truculência humana deveria nos indignar profundamente.
E, ao sentirmos isso, deveríamos derrubar as mesas e os tribunais dos fraudadores da justiça, retirar os cofres de quantos desviam e saqueiam dinheiro público. Empunhar com coragem o chicote da denúncia, da profecia coerente, do testemunho sincero. E expulsar de dentro de nós e do nosso meio tantos profanadores e violadores de vidas. De corpos. De esperanças. Para que o divino que está neles/nós não seja destruído. Para que Deus não morra!

Nenhum comentário: