Quando mergulhamos diretamente numa determinada realidade, ou acontecimento, ou nos envolvemos profundamente com algumas pessoas, temos dificuldade de compreender imediata e claramente a sua importância, o seu impacto, o seu sentido mais profundo na nossa vida. A nossa participação direta nos acontecimentos se de um lado nos permite que os vivamos como protagonistas, de forma mais intensa e apaixonada, do outro lado ela não nos proporciona a possibilidade de analisá-los e julgá-los com a devida imparcialidade. No calor dos acontecimentos agimos e reagimos sem medir, muitas vezes, as conseqüências dos nossos gestos. Estamos ‘próximos’ demais para poder ver outros acontecimentos e outras pessoas. Para pô-los em relação com outros acontecimentos, com outras pessoas e com outras circunstâncias. E ver o todo. Muitas vezes fazemos a experiência de uma dor intensa muito pessoal e pensamos que é a única, exclusiva, e a maior do mundo. Afinal, somos nós que sentimos naquele momento a dor que nos machuca, e tentamos reagir a ela. O mesmo não sentimos com as dores de outras pessoas. Naquela hora só olhamos para a nossa que nos parece ser a única que faz sofrer! Já outros nos alertavam no passado que quando estamos próximos demais de ‘uma’ árvore, e olhamos só para ela, somos incapazes de ver a imensa floresta em que aquela árvore se encontra. É preciso, portanto elevar-se, distanciar-se, abstrair-se do que nos é ‘muito próximo’ para poder ver a totalidade. A totalidade da floresta, dos acontecimentos, das pessoas, das dores. E a totalidade dos seus sentidos e das relações existentes.
A ascensão de Jesus aponta para esse desafio e horizonte metodológico. Parece ser um claro convite do próprio Mestre aos seus discípulos e discípulas para não se deixarem vencer pelas suas decepções e fracassos pessoais. Para não mergulharem e rastejarem em seus medos pessoais que paralisam e imobilizam. Para que tenham a coragem de saber se elevar acima de tudo o que tenta amarrá-los e os apequena. Para que tenham a ousadia de se distanciarem, metodologicamente, de todos e de tudo o que os impede de ver outras pessoas, outros acontecimentos, outros caminhos, outras saídas. Para saber reler o seu próprio passado e presente não somente à luz da sua dor, da sua fragilidade e dos seus fracassos, mas à luz de tantas histórias de vitórias e de inúmeros testemunhos de coerência e fidelidade a valores que nunca se acabam. E, ‘do alto’, - mas não desde fora, - contemplar uma humanidade que sofre e se alegra, mas que é bem maior que o nosso pequeno mundo pessoal. Bem maior que a nossa dor e as nossas decepções pessoais em que havíamos mergulhado. Compreendermos que as podemos superar ao contemplar e nos solidarizar com as dores e as decepções de ‘todos’. Mergulharmos nas suas numerosas e difusas formas de superação. E não nos deixar arrastar pela correnteza da indiferença, da mesquinhez, da sedução de tudo o que ‘rasteja’...
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