Um amigo ontem me mandou uma mensagem dizendo para não escrever ‘besteiras’ sobre o Espírito Santo no meu Blog. De fato, é comum escrever muitas superficialidades e obviedades sobre o Espírito Santo. Quantas vezes atribuímos somente a ele intervenções que humanamente nos deixam estupefatos? Ou delegamos a ele o poder de intervir surpreendentemente no nosso cotidiano diante da nossa incapacidade e não vontade de modificar uma realidade que cabia a nós modificar? Ou invocamos a sua ‘luz e sabedoria’ para que nós ou outros tomássemos as decisões ‘certas’ na nossa vida por não sabermos discernir? Ou lhe atribuímos o poder de ele escolher esta ou aquela pessoa para um determinado cargo ou serviço? Mesmo sabendo que era, na realidade, uma forma para justificar para nós mesmos e para os outros a sua autoridade de mandar sobre nós e nos controlar? O ‘Espírito Santo’ tem estado presente na nossa vida como um ‘ser’ externo a nós. De complexa e incompreensível identidade tem aparecido no nosso cotidiano como uma ‘sagrada ficção’, uma espécie de ‘deus ex-máquina’. Ou seja, um estratagema utilizado nos momentos mais impensáveis e imprevisíveis da nossa existência para resolver o que considerávamos insolúvel. Como libertar-nos de tantas manipulações e distorções a respeito do Espírito? Como criar condições para que possamos ser ‘uma coisa só com ele’, e evitar que o Espírito seja algo estranho e externo a nós? Como educar-nos à vida no Espírito assumindo a nossa responsabilidade pessoal e missão humana de re-criar e transformar permanentemente a nossa realidade histórica de acordo com a prática evangélica de Jesus de Nazaré?
Afinal, trata-se disso, e não de outra coisa: viver no Espírito é incorporar, atualizar e reproduzir as opções e a metodologia de Jesus de Nazaré, hoje. Nós humanos ao experimentarmos a plenitude humana e a felicidade que brota da comunhão e fraternidade com os outros humanos, de amarmos e apreciarmos suas palavras, suas opções de vida e seus gestos, - não importando se eles são vivos ou não fisicamente, - temos o poder de incorporá-los nos nosso ser mais profundo. E perpetuá-los no nosso cotidiano. Como se eles estivessem vivendo e revivendo através do nosso corpo e continuando a agir e atuar através das nossas opões e escolhas de vida. Pentecostes é o momento de lucidez e de revelação coletiva em que tomamos consciência desse poder que temos dentro de nós. Sem renunciar á nossa autonomia, à nossa criatividade pessoal e especificidade assumimos a missão de levar adiante e de atualizar a prática de amor e de compaixão que Jesus de Nazaré realizou outrora. Ou seja, o espírito de doação e serviço de uma pessoa que nunca morreu. Só na medida em que somos coerentes com os gestos e opções de Jesus de Nazaré é que possuímos o seu Espírito. O espírito pelo qual gritamos para nós e para o mundo ‘Abbá-Pai’. É na fidelidade à ‘boa nova’ que fazemos acontecer pentecostes. Cotidianamente.
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