Ele tem 93 anos. Continua lúcido, contundente, incisivo nos gestos e nas palavras. É o bispo emérito Dom José Maria Pires, popularmente conhecido como Dom Pelé. Está em São Luis nesses dias para participar de um simpósio sobre ‘Religião, carisma e poder: as formas da vida religiosa no Brasil’ que se realiza no centro de Ciências Humanas da UFMA, São Luis, de 29 a 01 de junho. Dom José Maria veio falar especificamente sobre o sentido do Concílio Vaticano II de que celebramos justamente nesse ano o 50º aniversário e do qual ele mesmo participou. Hoje pela manhã estava na sala de reuniões do arcebispado, diante de uma platéia de 50 padres, acompanhado pelo arcebispo Dom Belisário, o auxiliar Dom José Carlos e outro grande estudioso da igreja, padre José Oscar Beozzo. Foi este que iniciou contextualizando a ‘primavera da igreja’ como foi definido o Concílio à época. Dom José Maria, a seguir, descreveu em quatro pontos centrais a importância e a revolução que esse Concílio Ecumênico produziu na igreja católica e nas igrejas cristãs. Segundo Dom José Maria o Concílio permitiu que a igreja católica conhecesse a multiplicidade de ritos e estruturas eclesiais que surgiram ao longo dos séculos. Que permitiu à igreja reatar o diálogo com essas outras igrejas cristãs, apreciando-as e valorizando-as, sem ‘lançar anátemas’ como costumava fazer até então.. Que começasse não somente um diálogo franco e aberto com elas, mas com a própria sociedade considerada espaço de perdição e de afastamento de Deus. A partir do Concílio Vaticano II a igreja já não se colocava como a ‘dona da verdade’, mas procurava as integrar ‘diferentes verdades’ espalhadas. Essencial e de importância incalculável desde um ponto de vista teológico foi, segundo o bispo emérito, a afirmação clara e decidida do concílio de que a igreja é ‘povo de Deus’, comunhão de homens e mulheres. A conseqüência disso é que todos indistintamente, homens e mulheres, por serem batizados participam de igual maneira do sacerdócio de Cristo. Dom José Maria não escondeu também as tentativas e as formas de sutil manipulação exercidas pela Cúria Romana na hora de regulamentar esses princípios teológicos. Os dois convidados direcionaram suas intervenções para padres que hoje pouco sabem sobre a importância do evento eclesial ecumênico em 1962. E que correm o perigo de negar através de atitudes clericais e legalistas a luz e a inspiração que herdamos daquele Concílio convocado por um papa (João XXIII) que havia intuído que a igreja católica precisava oferecer mais misericórdia e diálogo do que condenação e exclusão.
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