Vivemos em plena revolução da comunicação, - ou melhor, da informação extensa e filtrada, - mas nunca como hoje temos dificuldade de ouvir. Escrevemos e falamos para os outros, mas não temos paciência e disposição para escuta os outros. O tempo e o espaço se encurtaram, tudo tem que ser rápido no aqui e agora da vida. Lançamos a mensagem, a provocação, o sinal e vamos correndo atrás de mais sinais e mensagens para lançar e interpretar, mas isso não nos capacita para acolher as mensagens e os sinais do outro. Não podemos nos desconectar, desligar, assumir outros ritmos, pois correríamos o perigo de sermos isolados e colocados à margem da ‘grande rede’. Somos chamados a desempenhar vários papéis ao mesmo tempo e a nos desdobrar em inúmeros serviços e funções engolidos e sugados por formas de hiper-ativismo estonteante. A revolução midiática e o ritmo dos ‘tempos modernos’ não trouxeram e não imprimiram nas pessoas uma nova postura de escuta perante o outro. Uma espécie de contemplação dele mesmo que está esquecendo. Esse ‘outro’ é visto quase que exclusivamente como usuário, amigo da rede, possível parceiro ou competidor, receptador das nossas mensagens e sinais, mas quase nunca como uma pessoa que possui sonhos, dramas, dúvidas, medos que ele precisa desabafar e comunicar a um alguém que o possa escutar. E quando encontra alguém disposto a escutá-lo deverá fazê-lo de forma rápida e superficial porque lhe custará caro, sendo que tudo é calculado em dinheiro.
Afinal, o outro que não escutamos somos nós mesmos que não somos escutados e somos incapazes de nos escutar. Somos ‘Marta’ que ainda vítima dos inúmeros afazeres reais ou imaginários, impostos ou criados pelos modismos da hora impedem que possamos desenvolver e valorizar a ‘Maria’ que está dentro de nós. A que ainda não perdeu a capacidade e a disponibilidade de sentar aos pés do Mestre, da vida, e ouvir de forma gratuita e atenta, sinais e mensagens, mas, principalmente, sentimentos, dramas, angústias, afetos, e sonhos. Os que ainda fazem vibrar e esperar.
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