Faz um ano que fui excomungado da Igreja Católica após me negar a retirar da internet reflexões sobre a moral sexual da igreja e a pedir perdão por ter feito estas reflexões. Parece paradoxal, mas não é: a minha recusa a retirar o material da internet e de pedir perdão por ter livremente refletido foi se confirmando durante este ano como pura coerência com a fé cristã e a minha missão de padre. Durante este ano ficou para mim muito claro que não pedir perdão significou dizer NÃO à falta de reflexão da igreja. Significou defender o fundamental da dignidade da pessoa humana: a possibilidade de refletir e a liberdade de expor seu pensamento.Durante este ano ficou claro que não pedir perdão significou que ser padre não é ser um operário de uma instituição, mas sim ser alguém que tem por obrigação viver os critérios pregados e vividos por Jesus Cristo: o amor a Deus e o amor ao próximo. Durante este ano ficou claro que a recusa de pedir perdão foi assumir a atualização do amor ao próximo para os dias atuais. Afinal, como posso amar meu próximo exigindo que homossexuais, lésbicas, transexuais vivam como celibatários? Como posso amar meu próximo se não compreender que a sua sexualidade é uma Benção de Deus e que a sua não aceitação é uma doença da sociedade que justamente não reflete, não estuda, não quer compreender a natureza humana? Neste um ano de excomunhão ficou para mim mais nítido como as religiões cristãs precisam de uma leitura mais lucida da Bíblia e, principalmente, necessitam compreender que o texto bíblico não contém somente a Palavra de Deus, mas também visões de mundo estóicas, judaicas e helenistas típicas da Antiguidade, de uma época na qual o homem não conhecia a natureza humana e sua sexualidade como as conhecemos hoje.Ficou claro neste um ano como excomungado o perigo de as religiões formarem pessoas com mentes dogmáticas e fundamentalistas, mentes que reproduzem esta forma de pensar o mundo em outros setores como política, sociedade ou meios de comunicação. (Síntese da carta de padre Beto - Fonte: Carta Capital)
Nenhum comentário:
Postar um comentário