As parábolas utilizadas por Jesus visam suscitar espanto em seus ouvintes. Elas não seguem a lógica comum. São propositalmente paradoxais, exageradas. Dessa forma Jesus consegue captar a atenção das pessoas. Estas acabam se perguntando: ‘O que ele quer dizer com isso?’Isso faz com que as pessoas parem e se confrontem com a sua palavra que segue a lógica de Deus e não a dos homens. A parábola de hoje é fortemente polêmica e visa ‘provocar’ a mentalidade farisaica e apresentar a ‘mentalidade’ de quem pensa e age como Deus. Analisemos brevemente:
1. O dono da vinha precisa de trabalhadores e não quer que ninguém fique parado ou sem emprego. Por isso sai a toda hora à procura de quem estiver disponível a trabalhar. Perguntemo-nos se nas nossas comunidades há trabalhadores trabalhando ou se há muitos só assistindo outros poucos a trabalhar....
2. O dono/empregador faz um acordo inicial de um bom salário que é aceito pelos contratados, seja pelos trabalhadores da primeira hora, bem como, - com maior razão, - pelos trabalhadores da última hora.
3. As reações agressivas dos trabalhadores da primeira hora ocorrem no momento do pagamento. Nele fica claro que o dono quis demonstrar a sua extrema generosidade com os da última hora dando o mesmo valor que aos trabalhadores da primeira hora de forma pública, para todos verem. Evidentemente, os da primeira hora, mesmo que tivessem aceitado o acordo inicial, acham injusto o pagamento, e reagem.
4. O que Jesus quer combater, nessa parábola, é a ‘teologia dos merecimentos’ dos fariseus, principalmente. Estes consideram Deus um juiz que dá de acordo com os méritos de cada um. Os fariseus achavam que por eles freqüentarem a sinagoga, obedecer aos preceitos, pagar o dízimo, etc. iriam obter mais benevolência, proteção e mais favores por parte de Deus do que os outros que não faziam nada disso, ou que haviam começado a fazer isso somente na última hora.
5. Jesus mostra com suas palavras e gestos que o Deus dos fariseus não é o Deus em que Ele acredita. O Deus dele é o Deus da generosidade e da misericórdia sem limites, que vai contra a lógica, e a idéia de justiça distributiva (dar a cada um o seu!). A justiça do Deus de Jesus é a ‘equidade’, ou seja, dar MAIS A QUEM PRECISA MAIS! E isso, independentemente de seus méritos!
6. A nossa inveja, muitas vezes, chega a ser doentia ao perceber que Deus é generoso para com os que se convertem na última hora, achando que nós ‘justos’ (quem disse que o somos?!) merecíamos muito mais do que ‘eles’ pelo fato de termos obedecido a determinadas obrigações religiosas. Jesus nos diz que, afinal, Deus faz chover bênçãos sobre os que se consideram bons e também sobre os que não são considerados bons, sem praticar distinção.
7. Não há recompensa final divina por ter feito isto ou aquilo (obrigações, preceitos, proibições, etc.), mas só a alegria e o bem-estar interior por ter sido fiel a Deus. Quem começou cedo a ser fiel terá aproveitado muito mais do que aquele que entendeu essa alegria de ser fiel somente na última hora! O fato de ter usufruído dessa alegria e paz, sem segundos fins e interesses, não é, por acaso, um excelente salário?
8. Olhando para as nossas comunidades não podemos esperar que quem começou a animar, coordenar e servir uma comunidade exija mais privilégios ou reconhecimentos que os demais. Pior ainda, que se senta ‘dono’ da ‘vinha/comunidade’ porque foi ele ou ela que a fundou, que a zelou, que a reformou, etc.... Daí a necessidade de ‘pensar conforme Deus’ cujo pensamento é muito diferente do nosso.
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