Quantos de nós ao ser repreendido por alguém não ficou um tanto magoado e chateado? Ou fechamos a cara por um longo tempo para uma pessoa que com toda sinceridade e delicadeza nos alertava sobre o nosso jeito de ser? Muitas vezes interpretamos essas iniciativas como uma invasão na nossa vida, uma forma de interferir na nossa esfera pessoal inviolável. Diante da menor observação ao nosso jeito um tanto incoerente de ser, raras vezes a interpretamos como uma manifestação de sincera amizade, um desejo autêntico de alguém que nos quer ver dando sempre o melhor de nós mesmos. Sabemos que certas observações são procedentes, mas preferimos não ouvi-las. Incomodam-nos. Preferimos imaginar que procedem de pessoas invejosas, ciumentas ou dominadoras. É o nosso orgulho, afinal, que é atacado. Ou a excessiva consideração que temos de nós mesmos que se sente minada. Mas existe o outro lado, o lado de quem deveria por dever moral alertar e ajudar uma pessoa a se corrigir. Nessas horas entram os falsos pudores e as falsas manifestações de humildade: quem sou eu para dizer a alguém o que ele deve ou não deve fazer? Eu, afinal, não sou melhor do que os outros para fazer determinadas observações! Dessa forma, mesmo vendo que o nosso irmão está se perdendo pelo caminho, nos calamos. Omitimo-nos. Ou, pior, preferimos comentar o jeito de ser deste ou daquele, em boca pequena, com um e com outro. E assim damos início às calúnias, às difamações, e às fofocas que destroem vidas e infernizam a convivência de uma comunidade. Mateus no evangelho de hoje nos oferece de forma magistral algumas pistas de como proceder nesses casos.
A primeira etapa é sempre o contato pessoal, o cara a cara com a pessoa que parece estar criando conflitos e problemas numa comunidade. É a etapa mais delicada, pois do êxito desta dependem as outras duas. Se queimarmos os nossos cartuchos no contato pessoal inicial podemos produzir um fechamento permanente no outro. É importante que haja de ambas as partes abertura e autêntica disposição em ouvir o outro. Sem preconceitos, sem moralismos e sem sentimentos de superioridade. Muitas vezes a pessoa que nos repreende é ignorada por nós porque assume posturas arrogantes de quem sabe tudo e de quem se acha perfeito. O diálogo deve ser manifestação de verdadeira vontade de não perder o outro que precisa de ajuda, e não de repreensões!
A segunda etapa ocorre só se a primeira fracassa. Pode ser que a conversa pessoal tenha falido por uma errada estratégia da pessoa que tomou a iniciativa de ‘corrigir’ o outro. Ou que, talvez, não fosse muito estimada pela pessoa a ser ajudada. A própria pessoa a ser corrigida, ao perceber que não é somente um indivíduo que vê os problemas produzidos por ela, pode se conscientizar com mais rapidez. Afinal, não é somente uma pessoa que considera errado o seu jeito de ser, mas várias. Isto deveria fazer com que se sinta profundamente questionada. Ao mesmo tempo, olhando positivamente a iniciativa desse grupo, a pessoa deveria ficar alegre ao perceber que há várias pessoas que estão preocupadas com ela, e que querem que continue a fazer parte da sua vida!
Ao não ouvir também o grupo só cabe falar para a comunidade. A comunidade/igreja entra como terceira opção, ou seja, Mateus nos diz que temos que esgotar os outros dois meios antes de colocar publicamente os problemas produzidos por um nosso irmão. Agir com discrição e delicadeza está acima de tudo. Pode ocorrer, enfim, que nem isso produza efeito. Só nesse caso a pessoa ‘deve ser considerada como um publicano e um pagão’! Ou seja, uma pessoa que continua sendo amada e querida, - pois Jesus sempre acolheu essas pessoas, - mas não mais como membro de uma igreja. Mesmo sabendo que ela não é o espaço só dos puros e dos santos, a igreja é, contudo, o espaço dos querem caminhar em comunidade/comunhão com suas contradições e qualidades. O que não pode haver é alguém andar por conta e se colocando acima dos demais e ignorando o que a comunidade decide!
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