Todo gesto que realizamos tem um valor simbólico, seja o que for. Comer algo com alguém, por exemplo, não é somente uma função fisiológica, o de encher barriga. É sinal de comunhão com quem come conosco. É um sinal da generosidade da mãe terra. Pode ser expressão do sonho comum de matar a fome do mundo, etc. A palavra ‘comer’ na sagrada escritura aparece cerca de 1.000 vezes, muito mais do que a palavra ‘rezar’ que só aparece cerca de 100 vezes. Alimentar-se e alimentar as pessoas pelo menos três vezes ao dia, - como só os ricos faziam á época dos profetas, - sempre tem sido o sonho dos pobres de Javé. Como negar que continua ainda hoje o sonho e o desafio de pelo menos dois bilhões de pessoas desse planeta? Pois bem, o evangelista João nesses próximos 5 domingos irá nos apresentar um Jesus preocupado em matar ‘as nossas fomes’, físicas e espirituais. O tema específico da eucaristia, no entanto, só será apresentado somente daqui a cinco domingos. No evangelho hodierno João faz questão de nos informar que estava ‘próxima a páscoa dos judeus’, ou seja, coloca a multiplicação no contexto de escravidão-libertação. De saída da terra do faraó e de caminhada para a terra prometida. Jesus, aqui, é apresentado como o novo Moisés, aquele que conduz o seu povo pelos desertos da vida à procura de uma terra e de um reino prometido. Um verdadeiro líder que caminha ao lado do seu povo, preocupado com suas necessidades e carências. Ao mesmo tempo, Jesus como Moisés, sente que tem que ajudar o seu povo a ‘mudar de lógica’ e de atitudes. Jesus tem que convencer as pessoas a renunciar não somente á lógica do ‘comprar alimento com dinheiro’, ou de segurá-lo só para si, mas de aprender a colocar em comum o que se possui em favor de todos.
O milagre da multiplicação do pão, não ocorre sem que haja alguém que comece a colocar alguns pães e peixes à disposição de todos! Sem que haja alguém dando um exemplo de desprendimento e partilha não há como realizar o ‘milagre’ da 'multiplicação'. Deus não manda pão do céu, assim, do nada, de forma milagrosa. Ele mata a fome dos seus filhos através da generosidade de outros que possuem alimento, pouco ou muito que seja. E aí o pouco se torna muito, ou suficiente. Interessante observar que a primeira pessoa que aparece para colocar em comum os alimentos é uma criança. Afinal as crianças ainda não são viciadas em segurar só para si como fazem, em geral, os adultos. Não possuem ainda a ambição e o desejo doentio de acumular. Por isso que Jesus dizia aos seus discípulos que se não se tornarem como crianças não iriam entrar no Reino de Deus. Jesus nos diz com esse gesto que ao abrir nossas mãos para alimentar e matar a fome do mundo estaremos realizando o sonho de Deus: multiplicar plenamente (12 cestos) vida e esperança para um povo faminto, abatido, e ainda egoísta. Estaremos começando a superar a doença do acumular, do consumir sem critério, e do desperdício vergonhoso. Com maior razão essa lição vale para nós igreja, hoje, onde muitos pais de família estão desempregados e sem perspectiva imediata de garantir vida digna para os seus. Façamos acontecer o milagre da solidariedade.
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