Sempre me tem chamado a atenção o infantilismo religioso da maioria dos governantes, sejam eles presidentes da República e/ou governadores, principalmente. A preocupação em dispor adequadamente e ostentar símbolos religiosos em época de campanha ou quando ocorre uma audiência formal com setores da igreja católica é algo ridículo. Não me refiro tanto ao ‘discurso eleitoreiro’ imbuído de sacralidade da mais vasta pluralidade em épocas de arrecadar votos, - algo obrigatório, - mas do ‘artificialismo cênico’ que é meticulosamente preparado quando um presidente ou um governador recebe bispos e outros altos prelados. Vejo duas mastodônticas contradições. A primeira é que a maioria dos governantes sustenta a autonomia do estado em relação à igreja, ou religião, o que é mais que correto. Entretanto, a segunda do visitante religioso, os governantes fazem questão de dispor de forma bem visível uma bíblia, um crucifixo, uma imagem de um santo, uma foto com um papa, ou dele/a rezando ou recebendo a comunhão de olhos fechados. Sem falar das narrações de quando era coroinha ou quando fez a primeira comunhão. Algo tão artificial que se percebe ter sido predisposto exclusivamente por algum marketeiro, para a circunstância (a visita da autoridade religiosa). No intuito de agradar o ilustre visitante esquece o nosso governante que teria que manter a autonomia e a separação necessária também na esfera simbólica, e evitar expor e banalizar símbolos que para ele, afinal, nada dizem! Uma segunda questão relacionada à primeira é que esse exibicionismo religioso nada mais é do que uma clara expressão da ingenuidade política do governante. Ele acha que os seus interlocutores, autoridades religiosas, seriam tão incautos e ingênuos em acreditarem no profundo espírito religioso que estaria presente na sua alma. Ao exibir na prateleira do gabinete objetos religiosos o governante estaria insinuando aos seus interlocutores religiosos que, afinal, estariam ‘jogando no mesmo time’. Não percebe o governante que, ao contrário, ao agir de tal maneira, está revelando o seu lado cínico e dissimulado, claramente perceptível. Perde assim a moral, e a possibilidade de dialogar de igual para igual, justamente graças às legítimas diferenças de credo existentes entre si. Estaria o governante praticando, de forma ridícula, a idiotização do interlocutor oferecendo-lhe o que ele acha que é do seu (interlocutor) gosto. Governantes, sejam vocês mesmos, pois dessa forma poderemos conversar como adultos sérios!
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